"Lisboa, Cidade Triste e Alegre", de Victor Palla e Costa Martins (Pierre von Kleist editions, 2015) era até agora um livro de fotografia mítico mas absolutamente inacessível nas suas duas singelas edições, que com esta nova edição se pode certificar também mágico e perceber seminal. Nunca lhe tinha posto a vista em cima mas agora não me escapou.
De uma assombrosa beleza visual que resulta da sua verdade, as fotografias dos dois arquitectos são um poderoso testemunho de Lisboa nos anos 50 do Século XX, uma cidade como ninguém a tinha visto na época nem viu depois. Acompanhado por poemas de alguns dos mais conhecidos poetas portugueses de então, alguns anteriores (o título do livro vai ser procurado num poema de Álvaro de Campos), outros inéditos à data, com eles as fotografias da dupla dialogam de modo justo e muito feliz.
Não se pode excluir o carácter poético das próprias fotografias, embora o seu enquadramento gráfico ajudado pela passagem do tempo para ele contribua. Mesmo que tal não seja posto de parte no texto introdutório de José Rodrigues Miguéis, é toda um tempo histórico que este como as fotografias convoca. A dureza e clarividência do preto e branco fazem muito pela poética de uma fotografia que se quer documental ao percorrer as diferentes questões/personagens-tipo na cidade do seu tempo, sempre presente.
No final, um índice exaustivo permitiu aos autores comentarem as fotografias todas, uma a uma, no seu recorte gráfico único no livro. Victor Palla e Costa Martins sofreram sem dúvida influências da fotografia do pós-guerra, como é assinalado por Gerry Badger no caderno junto ao livro, mas foram incalculáveis as influências que exerceram sobre o futuro, maiores agora que o livro se torna mais acessível. E o cinema esteve antes e depois dele, como é bem assinalado.
Enquanto o folheio até o saber de cor, "Lisboa, Cidade Triste e Alegre" faz enevoarem-se-me no presente os olhos da memória do passado que ele actualiza de forma inédita e pungente. Vejam, leiam e aprendam como o melhor da fotografia aconteceu em Lisboa, Portugal, nos anos 50. Por mim não esperava algo de tão declaradamente bom, justo e comovente como este livro e as suas fotografias.
Se o tempo parou para permanecer em Portugal no Século XX com a fotografia foi aqui. Parou e permanece impresso num duro e intransigente uso de um equipamento e de um dispositivo gráfico em forma de livro.
Se o tempo parou para permanecer em Portugal no Século XX com a fotografia foi aqui. Parou e permanece impresso num duro e intransigente uso de um equipamento e de um dispositivo gráfico em forma de livro.
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