Durante a noite polar decorre numa cidade do norte da Noruega um caso bizarro: a condutora de um carro atropela e mata, sem disso ter consciência, uma adolescente, seguindo caminho sem parar para ver o que aconteceu ou a socorrer. O marido da condutora, a quem ela conta o que percebeu do acidente, um embate, volta ao local e nada nem ninguém encontra. É o filme "La grâce"/"Gnade", do alemão Matthias Glasner (2012), um realizador que se fizera notar por "Der freie Wille" (2006) e "This Is Love" (2009), que como este não chegaram a Portugal, e trabalha também para a televisão.
A paisagem gelada, belíssima na noite polar, não é indiferente, como não o é o casal Maria/Birgit Minichmayr e Niels/Jürgen Vogel e o filho deles Markus/Henry Stange serem alemães e ele, Niels, que trabalha como piloto de helicóptero, ter uma amante americana, Linda/Ane Dahl Torp. Torna-se, porém, especialmente importante que Maria trabalhe como enfermeira na assistência final a doentes terminais.
Vai ser ela quem, depois de ter provocado involuntariamente mas com descuido e incúria uma morte acidental, se vai culpabilizar e lidar com essa culpa, que apenas ao marido, Niels, confidencia, embora o filho Markus não ande longe. O seu percurso passa pelo coro da igreja a que pertence, o que pode também não ser de todo indiferente.
Depois de muita deliberação, Maria e Niels decidem ir contar aos pais da jovem morta o que de facto aconteceu, e os minutos finais do filme são do melhor que me foi dado ver desde o final de "A Palavra"/Ordet", de Carl Th. Dreyer (1955).
"La grâce" passou na passada semana no Arte, que continua com uma programação de cinema muito boa.
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