“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A contraprova

   No ano de 1962, em que todos situam a morte do western com "O Homem Que Matou Liberty Valance"/"The Man Who Shot Liberty Valance", de John Ford, um outro e quase desconhecido filme confirma o seu óbito: "Fuga Sem Rumo"/"Lonely Are The Brave", de David Miller, com argumento de Dalton Trumbo.
                    
   Lembro-me muito bem de ter visto este filme quando da sua estreia em Portugal e revio-o agora por mero acaso. Diz-se que Kirk Douglas, que o interpreta, o considerava o seu filme favorito (e percebe-se bem porquê da parte de quem interpretou grandes westerns de Raoul Walsh, King Vidor, Andre De Toth, Howard Hawks, John Sturges, Robert Aldrich), e o argumento do então ainda recente blacklisted, sobre o qual passa neste momento um filme em Portugal, não é indiferente para a sua excepcional qualidade.
   Jack Burns é um cowboy, que se dedica ao pastoreio de gado, e que se faz prender depois de um combate com um maneta para se juntar na prisão a um amigo, Paul Bondi/Michael Kane, e levá-lo a fugir com ele. Há antes e depois a mulher do prisioneiro, Jerry Bondi/Gena Rowlands, que tem um filho e pinta, a quem Jack se limita a pedir "a big kiss" antes de fugir sozinho depois da sua fuga solitária da prisão.
                    
    Perseguido por um xerife, Morey Johnson/Walter Mathau, curioso com o que se passa fora das paredes do seu gabinete, um cão com o qual ele dialoga e que nunca se vê, Jack escapa-lhe a ele e ao próprio exército, de que abate um helicóptero. Sempre fiel à sua égua Whisky, que se recusa contra si próprio a abandonar, acaba atropelado com ela por um camião de transportes numa auto-estrada - e o filme tinha-se iniciado com a travessia difícil de ambos de uma outra. O único tiro do final é fora de campo.
    A América que se tinha tornado hostil a estes heróis puros e solitários e que se despedia do western com um grande filme, o de Ford, sobre a verdade e a lenda, tinha-se tornado um espaço hostil na actualidade para quem pretendesse viver segundo os seus códigos. No ano seguinte o Presidente John Kennedy seria assassinado (sobre o western, ver "Poética do western", de 29 de Setembro de 2013).

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