Baseado na novela homónima, publicada em português, de Michael Punke, o mais recente e muito bem acolhido filme de Alejandro González Iñárritu, "The Revenant: O Renascido"/"The Revenant" (2015), não deixa de ser surpreendente numa obra toda ela recheada de sucessos.
Surpeende em primeiro lugar pela época em que se situa, no início do Século XIX (1820), ainda uma época de pioneiros, poucas décadas depois da independência americana, que torna compreensíveis as personagens (exploradores americanos e franceses, índios de diferentes tribus) e as situações conflituais. A partir daqui, surpreende em segundo lugar que o cineasta, também co-autor do argumento com Mark L. Smith, acolha com dignidade a narrativa canónica americana sobre os pioneiros, estabelecida por James Fenimore Cooper (1789-1851) no próprio Século XIX, o que se compreende melhor por se basear em factos reais.
História de sobrevivência num meio agreste e adverso, em que a maior adversidade são os outros humanos e que termina com a vingança de um pai, desde o início que em "The Revenant: O Renascido" o protagonista, Hugh Glass/Leonardo DiCaprio, diz que é preciso continuar a respirar, o que em acto passa no final para o genérico de fim.
Não vou louvar os actores, em especial DiCaprio e Tom Hardy como John Fitzgerald, evidentemente excelentes, em especial o primeiro que se submete às provas muito duras que a sua personagem atravessa em especial a partir do momento em que é abandonado por morto. Vou sim dizer que não gostei dos excessivos de movimentos de câmara, que à maioria surgirão como sinais de mestria de Iñarritu, utilizados em momentos dramáticos fundamentais, salvo no caso do aparecimento da manada de bisontes. Chamem-lhe "mestria", "trabalho superior", o que quiserem: apesar de o duelo final estar bem resolvido nada daquilo tem a ver com o género western ou com o subgénero filme de pioneiros.
Em contrapartida, o uso da natureza e dos seus elementos está muito bem tratado, com clara predonância da água, e os flashes do passado de Glass estão justa e parcimoniosamente utilizados. Claro que a narrativa, as personagens e situações se sobrepõem ao mais, e que globalmente o filme cumpre de maneira vistosa (a luta com o urso é sobretudo isso) o seu projecto narrativo e fílmico, o que o torna um favorito para os Oscars deste ano, em que pelo menos o destinado ao actor principal será sobejamente merecido.
A seu favor poderá jogar mesmo o paralelo com o "Derzu Uzala" de Akira Kurosawa (1975), passado ele também num meio difícil de sobrevivência, a Sibéria, mas bem melhor. Contra ele jogará o filme de Richard Serafian (1930-2013) "Um Homem na Solidão"/"Man in the Wilderness" (1971), com Richard Harris e John Huston, muito mais económico e melhor sobre o mesmo episódio verídico, como estará contra, além do desatino dos movimentos de câmara, uma música inutilmente solene e excessiva. Mas os tempos vão de feição para trabalhos do tipo deste no cinema (sobre Alejandro González Iñárritu, ver "Excesso de subtileza", de 4 de Fevereiro de 2015).
A seu favor poderá jogar mesmo o paralelo com o "Derzu Uzala" de Akira Kurosawa (1975), passado ele também num meio difícil de sobrevivência, a Sibéria, mas bem melhor. Contra ele jogará o filme de Richard Serafian (1930-2013) "Um Homem na Solidão"/"Man in the Wilderness" (1971), com Richard Harris e John Huston, muito mais económico e melhor sobre o mesmo episódio verídico, como estará contra, além do desatino dos movimentos de câmara, uma música inutilmente solene e excessiva. Mas os tempos vão de feição para trabalhos do tipo deste no cinema (sobre Alejandro González Iñárritu, ver "Excesso de subtileza", de 4 de Fevereiro de 2015).
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