Baseado na novela de Patricia Highsmith "The Price of Salt", de 1952 e com várias edições em português, "Carol", de Todd Haynes (2015), vem demonstrar que os livros da famosa escritora americana (1921-1995) são especialmente apetecíveis para grandes cineastas - "O Desconhecido do Norte-Expresso/""Strangers on a Train", de Alfred Hitchcock (1951), "O Amigo Americano"/"Der Amerikanische Freund", de Wim Wenders (1977), "O Grito do Mocho"/Le cri du hibou", de Claude Chabrol (1987), "O Talentoso Mr. Ripley"/"The Talented Mr. Ripley", de Anthony Minghella (1999).
De facto, o filme de Todd Haynes tem uma segurança e elegância de estilo que se coaduna muito bem com o seu ponto de partida literário, evoluindo no início dos anos 50 do Século XX sem qualquer embaraço ou escolho na descrição e narração da vida da protagonista, Carol Aird/Cate Blanchett, enquanto decorre o seu processo de divórcio do marido, Harge Aird/Kyle Chandler, e de entrega da guarda da filha de ambos, Rindy Aird/Sadie e Kk Heim. A relação de Carol com Therese Belivet/Rooney Mara, na sequência da anterior com Abby Gerhard/Sarah Paulson, vai no sentido da natureza dela mas é explorada pelo marido em vias de deixar de o ser.
Os actores são, como se impumha, muito bons, com destaque para a beleza e elegância de Cate Blanchett e a espontaneidade sensível de Rooney Mara, a adaptação de Phyllis Nagy muito boa, a fotografia de Edward Lachman (1) excelente, ao que responde uma música muito variada orquestrada e dirigida por Carter Burwell e a montagem simples e sempre justa de Affonso Gonçalves.
E haverá aqui que notar a subtileza da construção narrativa, em que só o final retoma o início onde fora deixado, depois de se ter aberto e fechado o cristal do tempo, que é pretexto para uma excelente reconstituição de época. Mas o feito mais notável é a confirmação de Todd Haynes como grande cineasta actual do melodrama no cinema americano - ele realizou também a mini-série "Mildred Pierce", em cinco episódios, para a televisão (2011).
Nota
(1) Consultar a entrevista de Edward Lachman aos Cahiers du Cinéma, nº 719, de Fevereiro de 2016 (páginas 20-22), integrada no excelente Dossier Spécial Caméras que permite desmentir mais uma vez o lugar-comum de que no cinema "a técnica não é importante".
Nota
(1) Consultar a entrevista de Edward Lachman aos Cahiers du Cinéma, nº 719, de Fevereiro de 2016 (páginas 20-22), integrada no excelente Dossier Spécial Caméras que permite desmentir mais uma vez o lugar-comum de que no cinema "a técnica não é importante".
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