“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A poética do arquivo

    Os italianos Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi são dois cineastas fundamentais dos últimos 40 anos da história do cinema que, na curta e na longa-metragem, vêm trabalhando as imagens documentais de arquivo com grade originalidade e pertinência.
    Depois da retrospectiva integral que o Centre Pompidou, em Paris, lhes dedicou entre 25 de Setembro e 15 de Novembro de 2015, o Arte transmitiu na noite passada o seu mais recente filme, "Pays barbare" (2013), que a partir de imagens do fascismo italiano, sobretudo na sua vertente colonial embora comece com a morte do ditador, nos dá um magnífico exemplo do método de trabalho deles.
                                               
   Trata-se de imagens de época, hoje de arquivo, que no seu carácter de testemunho histórico são submetidas ao retardador, à colorização, à exposição em negativo, à montagem e à sua consequente estetização, por forma a por mais tempo insistentemente permanecerem diante de nós como imagens do filme.
   E isto é exemplar do trabalho artístico e vanguardista de Gianikian e Ricci Lucchi, tanto mais interessados no mais antigo quanto ele estiver já degradado por forma que, por vezes, temos apenas fragmentos de imagem já parcialmente delidos, que o contraste, a negativização e a colorização trabalham.    
                   'Pays Barbare' Photocall - 66th Locarno Film Festival                                  
      "Pays barbare" de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi é um excelente exemplo do melhor que se pode fazer hoje em dia no documentário contra todos os seus cânones e dogmas mas respeitando sempre a regra de ouro de só usar imagens documentais. Em comentário, as vozes deles chamam a atenção para a actualidade de tudo aquilo, que não deve cair no esquecimento antes ser mostrado e recordado para nossa lição e proveito - se formos disso capazes.
      A Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema dedicou-lhes uma importante retrospectiva em 2001 que seria oportuno actualizar agora, já que a dimensão dos dois cineastas não tem parado de crescer e justifica-o.

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