O prestigiado documentarista americano Morgan Neville ganhou o Oscar para o melhor documentário de longa-metragem em 2014 com um filme invulgar e notável, "A Dois Passos do Estrelato"/"Twenty Feet from Stardom" (2013), que só agora tive oportunidade de ver.
E este é um grande documentário porque é dedicado às backupsingers, maioritariamente negras, que têm acompanhado grandes cantores sem serem na maior parte dos casos individualmente conhecidas nem verem reconhecido o seu valor próprio. Ora este filme põe-nas a falar de si próprias, a contar a sua história de cantoras, acompanhadas pelo depoimento dos cantores vivos com os quais cantaram, que se contam entre os maiores nomes da música moderna dos últimos 50 anos, que fazem o seu elogio total - e são eles quem melhor as conhece.
Mas o filme de Morgan Neville não se fica por aí - com espantosos contracampos, aliás -, pois inclui material de arquivo de concertos deles em que elas participaram por forma a permitir-nos apreciar hoje as vozes excepcionais delas, com um fundo de gospel e grande capacidade de adaptação, e o modo como valorizaram as performances dos grandes cantores conhecidos, as "estrelas" da música rock e pop.
Embora possa surgir como tardia, esta homenagem do cinema às backupsingers assume uma feição pouco frequente no documentário, a de musical, a que só chegam os filmes de grandes realizadores (Godard, Scorsese) sobre grandes grupos musicais. Ora tal fica a dever-se a uma excepcional montagem, que nos faz percorrer as últimas décadas sem perder a noção da cronologia.
Com uma energia que não dispensa o humor nem a emoção, "A Dois Passos do Estrelato" cumpre uma função fundamental ao fazer justiça àquelas que mostra e ouve, deixando-se embalar pelo seu talento e pelo seu amor à música, aqui exuberantemente demonstrado. Vê-se como um sonho que passa depressa mas marca e fica. E fixem os seus nomes porque elas vão ficar.
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