Com argumento de Drew Goddard a partir do livro de Andy Weir, "Perdido em Marte"/"The Martian", o mais recente filme de Ridley Scott (2015), é uma ficção científica especulativa e aliciante que, a partir da extrapolação de conhecimentos científicos comuns, cria um ambiente de tensão e suspense ao gosto do grande público.
Depois do filme histórico, com que não se dá tão bem - "Exodus: Deuses e Reis"/"Exodus: Gods and Kings" (2014), em que especulava sobre um passado bíblico - embora seja um género em que já fez bons filmes, o cineasta regressa pelo menos ao meio em que ficou conhecido com "Alien - O 8º Passageiro"/"Alien" (1979) e "Blade Runner: Perigo Iminente"/"Blade Runner" (1982), e fá-lo de modo mais feliz do que em "Prometheus" (2012) porque encara a conquista do espaço do lado do unanimismo.
Um astronauta americano, Mark Watney/Matt Damon, é abandonado por morto em Marte pela missão comandada por Melissa Lewis/Jessica Chastain antes de regressar à Terra, e aí ele vai ter de sobreviver até que possa vir a ser resgatado - e essa é a melhor parte do filme, a experiência da solidão planetária e da resistência. Falhada a tentativa de o recuperar a partir da Terra, como cedo se antevira é a própria estação espacial em regresso que acaba por ser encarregada de o fazer a partir dos cálculos de um jovem desconhecido, Rich Purnell/Donald Glover (a propósito, não foi a Apollo 9 mas a Apollo 8 que fez o primeiro voo circunlunar, em Dezembro de 1968).
Cansativo na sua longa duração, "Perdido em Marte" cumpre mesmo assim um programa aliciante e gratificante, embora Mark Watney seja uma espécie de MacGyver da exploração do espaço pelo seu engenho de astronauta e biólogo, o que é acentuado pela interpretação toda em leveza de Matt Damon. Nem sequer surpreende a mestria com que tudo é encenado, mas percebe-se que o filme está todo do lado das grandes audiências, que é o espaço preferido do cineasta (no que não existe problema nenhum), pela maneira como desenvolve a sua narrativa fílmica. E no final estão todos bem, para que a conquista do espaço possa prosseguir como todos desejam que aconteça, num filme muito americano, o que até lhe fica bem.
Não terei dúvidas em conceder que se trata de um bom filme (Ridley Scott é sempre tecnicamente irrepreensível e muito vistoso embora com alguma tendência para a grandiloquência) sem ser um grande filme - não está ao nível de "Interstellar", de Christopher Nolan, 2014 (ver "O outro lado", de 16 de Novembro de 2014) -, mas espera-se pelo próximo anunciado "Alien: Covenant". Até lá, o melhor filme do cineasta neste século é a meu ver "Robin Hood" (2010).
Mas se bem interpreto os sinais dos tempos, um destes dias os Cahiers dedicam-lhe a capa e uma extensa entrevista ou mesmo um livro, e então ele será herói independente do IndieLisboa com direito a retrospectiva integral nas cinematecas - sobre Ridley Scott ver "Um mito das origens", de 11 de Julho de 2012, e "Luxo estéril", de 24 de Novembro de 2013.
Mas se bem interpreto os sinais dos tempos, um destes dias os Cahiers dedicam-lhe a capa e uma extensa entrevista ou mesmo um livro, e então ele será herói independente do IndieLisboa com direito a retrospectiva integral nas cinematecas - sobre Ridley Scott ver "Um mito das origens", de 11 de Julho de 2012, e "Luxo estéril", de 24 de Novembro de 2013.
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