É difícil, e por isso rara, a publicação de livros de autores portugueses sobre cinema. Não vem ao caso discutir porquê (o cinema tem má fama entre os editores portugueses ou são os autores que têm má fama?), mas o certo é que são muito poucos, fora da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, que tem toda uma política de publicações de grande qualidade, os livros em português e de autores portugueses sobre cinema - mesmo a Cinemateca Portuguesa se socorre, em geral, mais de traduções do que de autores portugueses para as suas edições. Perante este panorama, devo acrescentar que conheço vários livros muito bons nessas condições, portugueses e de autores portugueses sobre cinema, que só tiveram edição on-line.
As
Edições Texto & Grafia, de Lisboa, vocacionadas para a edição na área das ciências sociais e humanas, da arte, da filosofia e da ciência, vêm
desenvolvendo, desde o seu aparecimento em 2008, um
trabalho muito bom e louvável na edição de obras de referência sobre cinema, com
a publicação de traduções portuguesas de livros de autores estrangeiros a que
de outra maneira os leitores portugueses dificilmente teriam acesso. Na colecção Mi.mé.sis, dedicada
primacialmente às artes do espectáculo, esta editora fez
sair até hoje doze livros sobre cinema, televisão, a imagem, alguns deles também com edição de bolso, que vêm enriquecer
os conhecimentos de qualquer estudioso, estudante ou professor de cinema. Além
disso, a mesma editora publicou um "Dicionário teórico e crítico do
cinema" (Jacques Aumont e Michel Marie) que é uma obra de referência,
muito actual e necessária. Salvo algumas objecções, as traduções são, em geral,
muito boas.
Muito por causa desta editora, que felicito pela sua actividade na área do cinema mas também noutras áreas das ciências sociais e humanas, da arte, da filosofia e da ciência, hoje em dia tornou-se mais fácil ensinar cinema e estudar cinema em Portugal. Claro que continuam a ser necessários os bens leitores, os bons professores e os bons alunos, mas a Texto & Grafia está a desenvolver um trabalho muito positivo na edição portuguesa na área da imagem e do cinema.
Além disto, quero deixar aqui uma outra sugestão de leitura. Acaba de sair em português "O Número de Ouro - A história de phi, o número mais assombroso do mundo", do astrónomo Mario Livio (Gradiva, Lisboa, 2012), sobre a famosa proporção de ouro ou secção de ouro que, embora ele não o diga, foi (Sergei Eisenstein, que a usou e teorizou) e continua a ser (o chinês Jia Zhang-ke, por exemplo) muito importante também no cinema (1). Este livro, que no original data de 2002, recebeu o Prémio Peano em 2003 e o Prémio Internacional Pitágoras para o Melhor Livro de Divulgação Matemática em 2004, o que dá uma ideia da sua importância científica, embora a edição portuguesa talvez beneficiasse se tivesse uma introdução.
Não devo, porém, passar sem uma referência à Orfeu Negro, também de Lisboa e também uma editora recente, que depois de ter publicado "Lacrimae Rerum - Ensaios sobre Kieslowski, Hitchcock, Tarkovski e Lynch", de Slavoj Zizek, e o muito importante "Cem Mil Cigarros - Os Filmes de Pedro Costa", com coordenação de Ricardo Matos Cabo, se tem dedicado ao trabalho muito louvável de traduzir o francês Jacques Rancière, um dos grandes filósofos contemporâneos, para português, incluindo livros em que ele faz uma referência detalhada ao cinema - "O Espectador Emancipado" e "O Destino das Imagens". Estas são edições muito recomendáveis, naturalmente para estudos mais avançados do cinema, de uma editora muito recomendável.
Nota
(1) Cf Sergei Eisenstein, "L'organique et le pathétique", in "La non-indifférente nature/1", U.G.E., 10/18, Paris, 1976, pág 47.
Não devo, porém, passar sem uma referência à Orfeu Negro, também de Lisboa e também uma editora recente, que depois de ter publicado "Lacrimae Rerum - Ensaios sobre Kieslowski, Hitchcock, Tarkovski e Lynch", de Slavoj Zizek, e o muito importante "Cem Mil Cigarros - Os Filmes de Pedro Costa", com coordenação de Ricardo Matos Cabo, se tem dedicado ao trabalho muito louvável de traduzir o francês Jacques Rancière, um dos grandes filósofos contemporâneos, para português, incluindo livros em que ele faz uma referência detalhada ao cinema - "O Espectador Emancipado" e "O Destino das Imagens". Estas são edições muito recomendáveis, naturalmente para estudos mais avançados do cinema, de uma editora muito recomendável.
Nota
(1) Cf Sergei Eisenstein, "L'organique et le pathétique", in "La non-indifférente nature/1", U.G.E., 10/18, Paris, 1976, pág 47.
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