Com a prestigiada chancela da Ática, em cuja Colecção «Poesia», fundada por Luiz de Montalvor, começaram a ser publicadas as suas Obras Completas, saiu em 2011 um curioso volume, "Argumentos para filmes", de Fernando Pessoa, com edição de Patricio Ferrari e Claudia J. Fischer, que também assinam a introdução e a tradução, e pósfácio de Fernando Guerreiro.
Não se sabia, ou pelo menos eu não sabia, que o poeta múltiplo tinha também escrito para cinema, de maneira que esta é uma revelação muito interessante, resultante de mais achados no seu espólio. Não são muitos nem são completos, no sentido de inteiramente desenvolvidos, os argumentos aqui publicados, mas são muito interessantes e reveladores de um pensamento original sobre o cinema. É, além disso, divertido verificar que o autor os escreveu em inglês e francês, só um maioritariamente em português, o que justifica a tradução. Ilustrado com fotografias dos próprios manuscritos, este volume revela-nos um espectador e um criador não ingénuo do cinema, em que se manifestam influências do cinema da época que enformam ideias originais e muito modernas, modernistas para ser preciso, sobre ele.
Este novo livro inclui outros apontamentos do autor em torno do cinema, pensamentos e alguma correspondência muito curiosa com José Régio e com a revista "Presença", em que também colaborou, e outras referências ao cinema provenientes da sua biblioteca pessoal, onde foram encontradas.
Além da importância do cinema naquilo
que Fernando Pessoa, ou talvez melhor Álvaro de Campos escreveu, para que
os editores chamam justamente a atenção na introdução para a poesia, o posfácio para a prosa, neste Fernando Guerreiro
pensa estes escritos e o cinema em Pessoa de maneira esclarecedora e precisa,
situando o cinema nos modernistas portugueses do primeiro e do segundo
modernismo, nomeadamente quando chama a atenção para que o futurismo e
o sensacionismo do escritor ("a sensação é a única
realidade para nós", pág. 170) tornavam-no particularmente sensível ao e
apreciador do cinema (mudo) alemão e russo do seu tempo, muito baseado na imagem e na
montagem. Esta é uma questão, a da
montagem, que o cinema sonoro atenuou de início, mas a sensação
continuou e continua a ser, ainda hoje, quando no cinema é estudada no âmbito da teoria da percepção, algo de fundamental para o espectador
de cinema - e será mesmo por onde, em todo o caso, uma figura como o
plano longo, o plano-sequência, impensável no tempo do cinema mudo, poderá ser atacada.
Considero este volume muito recomendável para todos os pessoanos, pelo que mais vem permitir conhecer de Fernando Pessoa (embora eu tenha um pouco a ideia de que quanto mais estudado e conhecido mais ele nos escapa...), e muito recomendável para os amantes do cinema, pelo que de novo e original sobre ele permite descobrir.
Mas quero aproveitar este ensejo pessoano para chamar, por minha vez, a atenção para o importante ensaio de Herberto Helder, nome maior da poesia portuguesa contemporânea a quem o cinema também não é indiferente, "O Nome Coroado", inserto no nº 6 da revista "Telhados de Vidro" (Direcção Inês Dias e Manuel de Freitas, Averno), de Maio de 2006, páginas 155-167, em que o autor produz reflexões originais muito interessantes e pertinentes sobre o poeta dos heterónimos.
Mas quero aproveitar este ensejo pessoano para chamar, por minha vez, a atenção para o importante ensaio de Herberto Helder, nome maior da poesia portuguesa contemporânea a quem o cinema também não é indiferente, "O Nome Coroado", inserto no nº 6 da revista "Telhados de Vidro" (Direcção Inês Dias e Manuel de Freitas, Averno), de Maio de 2006, páginas 155-167, em que o autor produz reflexões originais muito interessantes e pertinentes sobre o poeta dos heterónimos.
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