A terceira longa-metragem do americano Rian Johnson, "Looper - Reflexo Assassino"/"Looper" (2012), é um filme muito bom e estimulante que me faz acreditar nele como cineasta de futuro.
A ficção científica no cinema é, pela própria natureza deste, um género propício ao grande espectáculo visual, e ainda bem. Assim ela começou no cinema com Georges Méliès e prosseguiu com o mítico "Metropolis", de Fritz Lang (1927), recentemente recuperado na sua versão integral. Outros têm prosseguido nessa senda até à actualidade com grande sucesso, de Steven Spielberg e George Lucas a Ridley Scott e James Cameron. É mesmo assim e ainda bem, repito. No limite, e por se proporcionar ao grande espectáculo, a ficção científica pode tornar-se um puro espectáculo visual desprovido de ideias, pelo menos de ideias interessantes. E quando isso acontece, se acontece, mesmo assim como puro espectáculo visual o filme interessa, se interessar.
Ora o que faz a originalidade e o interesse de "Looper - Reflexo Assassino", de que Rian Johnson é argumentista e realizador, é ser um filme de ficção científica inteligente que, sobre a viagem no tempo, usa os efeitos visuais que precisa de usar sem que, por si mesmo, o grande espectáculo seja o seu objectivo primário.
A história é, em si, muito interessante, pois proporciona o encontro no mesmo espaço-tempo, em 2044, da mesma personagem, Joe, com 30 anos de diferença - Joseph Gordon-Levitt quando novo, Bruce Willis quando velho. E uma das questões que se vai colocar ao young Joe é se pode alterar a sua vida futura por forma a evitar transformar-se naquele old Joe. A outra questão, talvez a mais importante, que o filme coloca é se, sabendo-se que uma criança se vai tornar, quando adulto, um poderoso e terrível chefe de gang, é legítimo matá-la, ou não.
"Looper - Reflexo Assassino" é um filme muito bem construído em termos cinematográficos, com um tratamento inteligente dos sucessivos acontecimentos por forma a que o espectador vá progressivamente descobrindo o que, sem ser mostrado, aconteceu - exemplar a sequência da opção de Joe entre entregar Seth/Paul Dano ou a prata -, o que uma montagem tensa e elíptica vem tornar particularmente interessante e sugestivo. Ora quando se inicia a última parte do filme, em que surge a questão da criança, ela abre com um plano longo da mãe, Sara/Emily Blunt, que vem introduzir a personagem e a situação que ela traz consigo com um manifesta quebra de ritmo.
Todo o cenário, recorrente, do canavial, muito bom e expressivo apesar da sua simplicidade, faz despertar referências cinematográficas, nomeadamente a sequência da avioneta em "Intriga Internacional"/"North by Northwest", de Alfred Hitchcock (1959). Mas nessa parte final do filme é muito interessante também o comportamento masculino de Sara perante o intruso Joe, como vem a ser muito bom o tratamento do espaço no plano do interior da casa dela quando o filho, Cid/Pierce Gagnon, a atravessa, desde as escadas onde surge, sem ser visto, quando era suposto não estar em casa.
No final, e perante a alternativa de matar ou não matar a criança que em adulto irá ser um terrífico chefe de gang, Joe... Não, não vou contar o fim. Vejam "Looper - Reflexo Assassino" e pensem nas questões que ele levanta, que são muito interessantes - nomeadamente se a educação proporcionada pelo amor de mãe pode a tal ponto condicionar um filho para o bem, um poder que pessoalmente considero ter limites. Também neste caso, talvez Medeia tivesse razão. Aliás, a questão da antecipação e do impedimento do futuro estava já presente em "Relatório Minoritário"/"Minority Report", de Steven Spielberg (2002), em que era mesmo central ("ver "Do lado de Agatha", 8 de Abril de 2012).
Usando os efeitos especiais de que necessita de forma concisa e perfeita, em "Looper - Reflexo Assassino" Rian Johnson opta por vezes por situar o filme em interiores sem mostrar o exterior, tapando as janelas, o que vem salientar o seu conflito interior, conferindo-lhe um carácter anti-espectacular que lhe fica muito bem.
Este é o primeiro filme que vejo deste novo cineasta, que por ser um filme muito bom o torna mais um novo nome muito interessante e promissor a acompanhar com atenção no cinema americano.
Concordo genericamente. Um bom filme que sabe utilizar os efeitos especiais e visuais em seu benefício e benefício da história. Depois tem ainda uma sólida narrativa, com personagens relativamente bem trabalhados. Contudo, não o achei assim tão bom na realização, nos planos e nas sequências. Se é verdade que tem algumas destacáveis (com o miúdo principalmente) também é verdade que se desleixa na sua maioria, incidindo muito mais numa montagem meticulosa e rítmica, do que propriamente na construção e profundidade dos planos. Mas enfim estamos em Hollywood, e nessa medida não está mau, nada mau mesmo. (é terrível ainda assim alguns clichés, perfeitamente evitáveis).
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo