David Fincher, que tem na sua
filmografia filmes surpreendentes desde “Alien 3 – A Desforra“/”Alien 3”
(1992) e “7 Pecados Mortais”/“Seven” (1995) – penso em “O Jogo”/“The
Game” (1997), “Clube de Combate”/“Fight Club” (1999), “Sala de
Pânico”/“Panic Room” (2002) -, dirige em “Zodiac” (2007) um filme
notável que, pela sua estrutura narrativa e construção fílmica,
eu designaria de “clássico”.

Na verdade, este é um filme que recolhe alguma da melhor tradição do
cinema americano, a do filme policial e a do inquérito jornalístico (e
esta última, que vinha de trás, teve um grande incremento a partir dos
anos 70 do século XX), para refazer o percurso de uma perseguição e
tentativa de identificação de um “serial killer”, baseando-se, para
isso, em factos reais que, na época, estiveram na origem de “A Fúria da
Razão”/“Dirty Harry”, de Don Siegel (1971).
O filme em si mesmo é feito com brio, um brio que não envergonha
Fincher, mas deve-se dizer que este não surpreende aqui como em filmes
anteriores, de tal maneira o tema e as suas recorrências de investigação
entraram na rotina dos espectadores de cinema e de televisão. De facto,
em “Zodiac” poderia dizer-se que tudo está gerido, da narrativa aos
actores passando pelas referências de época, com grande competência, com
cada peça no lugar certo no momento próprio. Um jornalista, aliás
“cartoonista”, consegue, com persistência e tirando partido do passar do
tempo, o que a polícia não pôde conseguir, por incompetência, por falta
de meios, por falta de provas.