Em 27 de Julho de 2008 morreu Youssef Chahine. Contava 82 anos e foi um dos nomes maiores do cinema egípcio e do cinema árabe. O facto é aqui assinalado com tristeza porque se trata de uma das maiores figuras do cinema do chamado Terceiro Mundo, que foi simultaneamente um grande e indiscutível autor do cinema mundial.
Natural de Alexandria (1926), dirigiu o seu primeiro filme, ”Papá Amine”, em 1950. Atravessou essa década e parte da seguinte com melodramas e dramas sociais que chamaram para ele gerais atenções, com destaque para ”Estação Central”, de 1958. De 1963 data ”Saladino”, épico egípcio sobre a época das cruzadas ocidentais à Terra Santa, em cujo argumento participou Naguib Mahfouz, de 1968 “A Terra”, considerado o melhor filme egípcio do século XX, e de 1974 “O Pardal”, sobre a Guerrados Seis Dias.
Tornou-se mais tarde especialmente notado pela sua trilogia autobiográfica ”Alexandria…Porquê?” (1977), ”A Memória” (1982) e ”Alexandria, Ainda e Sempre” (1990), a que veio a acrescentar um quarto filme, “Alexandria… New York” (2002), e também por mais três filmes históricos: “Adeus Bonaparte” (1984), “O Emigrante” (1994), que adapta a história bíblica de José e os seus irmãos, o que escandalizou árabes em todo o lado, e “O Destino” (1996), sobre o célebre filósofo árabe do século XII Ibn Rushd (Averróis), que conquistou de novo o mundo árabe para o seu lado.
Espírito independente e homem de uma grande cultura, foi visto ao mesmo nível de grandes cineastas ocidentais (foi comparado, por exemplo, a Bergman e a Fellini) e de alguns dos maiores nomes seus contemporâneos do cinema oriental, como o japonês Akira Kurosawa e o indiano Satyajit Ray, ou do cinema africano, como o senegalês Ousmane Sembène.
Além de ter realizado o notável documentário “O Cairo contado por Chahine” (1991), dirigiu um filme em que critica a globalização, “O Outro” (1998), e participou nos filmes colectivos “Lumière et compagnie”, feito para a comemoração do centenário do cinema (1995), “September 11” (2002) e “Chacun son cinéma” (2006). Para o seu último filme, “O Caos” (2006), foi já assistido por um co-realizador, Khaled Youssef, devido ao seu estado de saúde.
O nome de Youssef Chahine fica indissoluvelmente ligado à arte do cinema, de que foi um dos principais cultores e criadores como espírito livre, o que lhe valeu o exílio, proibições e incompreensões, nomeadamente no seu país, que no entanto retratou com rara felicidade na sua época moderna mas também sem lhe poupar as críticas que entendeu merecer-lhe, e que veio a considerá-lo o mais importante cineasta
egípcio do século XX.
Ficam dele os filmes que fez, uma obra longa e rica de 35 longas-metragens e cinco curtas que fala por si mesma.
Dezembro 2008
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