Conheço bastante bem do Arte séries televisivas e filmes dirigidos por Dominik Graf, até agora só conhecido em Portugal por um filme, "Assalto ao Banco"/"Die Katze" (1988), apesar de ter começado no cinema nos anos 70, portanto ainda durante o "cinema novo" alemão. Tal ausência do nosso circuito comercial ficará talvez a dever-se a ele ter trabalhado mais para televisão do que para cinema.
Deste modo, a estreia de "Irmãs Amadas"/"Die geliebten Schwestern" (2014) permite tomar contacto com o seu talento cinematográfico da melhor maneira, pois trata-se de um filme inspirador e muito bom sobre o poeta, filósofo e historiador alemão Friedrich Schiller/Florian Stetter e os seus amores por duas irmãs, Caroline von Beulwitz/Hannah Herzsprung e Charlotte von Lengefeld/Henriette Confurius, no final do Século XVIII, quando explode o romantismo com a grande filosofia alemã, ainda antes da Revolução Francesa.
Com argumento do próprio realizador, o filme trata de forma surpreendente uma relação triangular não só consentida como procurada pelas duas irmãs, ao ponto de uma delas, Charlotte, casar com Schiller para que ele se torne acessível a ambas. Dos cenários ao guarda-roupa e às interpretações existe uma clara preocupação histórica muito bem concretizada.
A relação triangular estabelece-se a partir de uma correspondência epistolar muito bem filmada, com cada personagem falando directamente para a câmara, e culmina com o conflito entre as duas irmãs próximo do quarto do amado doente num belo momento de cinema. A
evolução da narrativa devolve-nos ao convívio de um escritor famoso, que morreu precocemente com 45 anos deixando um filho a cada uma das
suas amadas, num filme com uma realização segura e equilibrada, em que se destacam os planos mais longos e os silêncios.
Sendo embora uma história de época em que tom do tempo é dado de maneira muito feliz, é também uma história moderna num filme de grande qualidade graças ao seu realizador e aos seus intérpretes. Por histórias semelhantes passou por duas vezes François Truffaut - foi justamente em "Jules e Jim"/"Jules et Jim" (1962), que ele foi mais moderno, e ao tema regressou em "As Duas Inglesas e o Continente"/"Les deux Anglaises et le continent" (1971), sempre a partir de Henri-Pierre Roché - em quem este filme faz pensar.
Com fotografia de Michael Wiesweg, música de Sven Rossenbach e Florian van Volxem e montagem de Claudia Wolscht, "Irmãs Amadas" é uma nova bela surpresa do cinema alemão este ano entre nós. Já tinha visto no Arte e confirmei agora a boa impressão com que tinha ficado.
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