“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Um problema complexo

    Imparável no seu ritmo de um filme por ano, Woody Allen realizou e escreveu "Café Society" (2016), filme situado nos anos 30 do Século XX entre Hollywood e New York que agora estreou entre nós.
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    Percebia-se melhor se situasse o seu filme no seu próprio tempo, os anos 60/70, mas a sua "mania das grandezas" leva-o para a mítica "época de ouro" do cinema americano, fundadora de uma ideia importante do cinema, o que até faz sentido em quem já revisitou os anos 20 em "Meia-Noite em Paris"/" Midnight in Paris" (2011) com sucesso assinalável. Assim, a reconstituição a que procede envolve os grandes realizadores, produtores, actores e actrizes e os grandes estúdios pioneiros do cinema sonoro.
    Um sobrinho jovem, Bobby/Jesse Eisenberg, parte de New York para Hollywood onde está bem estabelecido o seu tio Phil Stern/Steve Carell, casado e que tem uma secretária, Vonnie/Kristen Stewart, que vai estar na origem de um problema complexo.
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   Numa família judia, o que tem mais graça são as piadas de judeus que envolvem Evelyn/Sari Lennick, irmã de Bobby, e Ben/Corey Stoll, o seu irmão mais velho (é pior ser assassino ou ser cristão? pergunta no final a primeira sobre o segundo, para o qual nenhum problema apresentara qualquer complexidade), bem tratados em termos de situações e de diálogos, secos e elípticos. O mais é melodrama xaroposo e previsível revisitação de uma época através de lugares-comuns, que confirma o espectador que pretende edificar sem minimamente o inquietar.
   O lugar-comum chega até ao pôr-do sol em Central Park, uns anos depois do regresso de Bobby a New York, que se salva, como todo o filme, graças à fotografia de Vittorio Storaro na sua primeira colaboração com o cineasta.
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   A propósito do cinema americano poderíamos esperar e desejar mais e melhor do que o mero folclore hollywoodiano e judeu de época que o cineasta, arquitectura incluída, achou por bem aqui nos servir, mostrando que já conheceu melhores dias e melhores filmes.
   Sobre Woody Allen ver "Um americano em Paris", de 12 de Agosto de 2012, "Blue Moon", de 21 de Setembro de 2013, "O dom e o sinal", de 13 de Setembro de 2014, e "Um homem sombrio", de 21 de Setembro de 2015.  

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