“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O discípulo e o mestre

    "Manoel de Oliveira, o Cinema e Eu", o mais recente filme de João Botelho (2016), permite ao cineasta prestar testemunho da sua relação inicial com o mestre e contar episódios desconhecidos do difícil trabalho deste, e essa primeira parte está muito bem.
    Mas na parte final o cineasta permite-se fazer em filme mudo e a preto e branco um projecto dos anos 30 de Oliveira, que este não pôde concretizar na altura por motivos censórios. Intitula-se esse projecto "Prostituição" e ao filme dentro do filme o cineasta chama "A Rapariga das Luvas".
                    Film
   Com muito por onde escolher na felizmente longa obra do mestre, Botelho faz nessa primeira parte deste filme as escolhas certas que conferem uma certa unidade à sua colectânea de momentos chave, emblemáticos. Saliento aqui os finais de filme - "Amor de Perdição" (1978), "Os Canibais" (1988), "Vale Abraão" (1993) e o verdadeiro final de "A Caça" (1963), aquele que foi escolhido pelo realizador.
   Ainda que esta selecção pessoal seja justa e louvável, acaba por ser o filme dentro do filme, com excertos do argumento como intertítulos, que constitui a grande invenção desta homenagem - e João Botelho faz então algo semelhante ao que tinha feito com "A Corte do Norte" (2008), baseado em Agustina Bessa-Luís, que José Álvaro Morais (1943-2004) não viveu o suficiente para poder filmar. 
                  
     No filme mudo e a preto e branco, elegantemente construído, surgem figuras do Porto conhecidas pela sua cumplicidade oliveiriana. O respeito e a homenagem ficam também neste caso muito bem, num filme que recapitula de forma feliz obras-chave do mestre. Do cineasta anuncia-se agora "Peregrinação" a partir de Fernão Mendes Pinto, em que desejo tenha melhor sorte que Paulo Rocha (1935-2012).
      Sobre João Botelho ver "Elogio do sensível", de 30 de Maio de 2013, "Grande fôlego", de 19 de Setembro de 2014, "Agora completo", de 19 de Outubro de 2014 e "Visita guiada", de 26 de Abril de 2015.

Sem comentários:

Enviar um comentário