"Fogo no Mar"/"Fuocoammare", o novo documentário de Gianfranco Rosi (2016), é um filme muito bom e bem calibrado sobre a ilha de Lampedusa, ao Sul da Sicília, Itália, e os refugiados que, provenientes do Norte de África e do Médio Oriente, a ela chegam aos milhares nas piores condições, como é do conhecimento de todos.
Na primeira parte, mais longa, sobre a ilha e os seus habitantes, em que a questão dos refugiados surge de diversos modos em toda a sua dimensão, com imagens especialmente impressionantes da identificação, da descrição das partes e classes dos barcos de transporte precário, clandestino e pago, da revista individual, e por palavras em que os próprios descrevem sumariamente o percurso feito até ali.
Mas numa linha narrativa específica então acompanhamos também o muito jovem Samuele Pucillo, as suas referências familiares, escolares, médicas e de brincadeiras com o amigo Mattias Cucina, que ensina a manejar a fisga, o que serve como comentário do quotidiano dos habitantes locais.
Desta forma, em "Fogo no Mar" Gianfranco Rosi consegue uma distribuição de pontos de interesse que, sem se centrarem exclusivamente nos refugiados, mais para eles permitem chamar a atenção como aqueles que, separados e no limite da sobrevivência, arriscam tudo em busca de uma vida melhor.
Sem se deixar esmagar pela magnitude da tragédia nem nos esmagar com ela, o cineasta proporciona todos os elementos de informação necessários, que mostra em toda a sua crueza. No final surgem, inevitáveis, imagens de um desembarque nas condições mais difíceis de quem a tudo se expôs na travessia do Mediterrâneo.
O ponto de vista, exterior, é sempre justo e bem sustentado. Se alguém pensar que é preferível um documentário com o ponto de vista dos refugiados que o faça, se puder, sem se limitar a criticar "Fogo no Mar", um filme sério, intransigente e muito bem feito que, integrando tudo o que pode, começa e acaba no silêncio de Lampedusa. E não me venham com a conversa estafada do "outro", de todo descabida quando o que está em causa é mesmo o "mesmo": a mesma espécie, a mesma humanidade, que nasce, vive e morre da mesma maneira.
Escrito pelo próprio realizador, que faz também a fotografia, a partir de ideia de Carla Cattani, este é não apenas um filme muito bom mas um filme necessário em termos documentais, que se destina a mostrar mais de perto, em alto contraste, uma situação inadmissível por quaisquer parâmetros, que dura há tempo demais e perante a qual não é possível alegar desconhecimento ou mostrar indiferença. A ver de olhos bem abertos até ao fim e aconselhar em volta - sobre Gianfranco Rosi ver "Dispersivo", de 2 de Setembro de 2014.
Escrito pelo próprio realizador, que faz também a fotografia, a partir de ideia de Carla Cattani, este é não apenas um filme muito bom mas um filme necessário em termos documentais, que se destina a mostrar mais de perto, em alto contraste, uma situação inadmissível por quaisquer parâmetros, que dura há tempo demais e perante a qual não é possível alegar desconhecimento ou mostrar indiferença. A ver de olhos bem abertos até ao fim e aconselhar em volta - sobre Gianfranco Rosi ver "Dispersivo", de 2 de Setembro de 2014.
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