“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Dilemas

   Argumentista de "The Hunt - A Caça"/"Jagten" (2012) e de "A Comuna"/"Kollectivet" (2016) de Thomas Vinterberg (ver "Contra a indiferença", de 17 de Março de 2013, e "O declínio do amor", de 29 de Agosto de 2016), o dinamarquês Tobias Lindholm é também realizador de cinema e autor do argumento dos seus próprios filmes. Dele estreou este ano em Portugal "Uma Guerra"/"Krigen" (2015), um filme curioso e interessante pelas questões que equaciona, se coloca e nos coloca.
                     
   Durante a guerra no Afeganistão, um comandante dinamarquês, Claus Michael Pedersen/Pilou Asbaek, dá ordem de fogo aos seus homens para os proteger, lhes permitir a retirada, com um ferido, e assim lhes salvar a vida. Sem saber que dentro do edifício alvejado estavam crianças.
   Acusado, passada uma hora de filme na frente, de ser responsável pela morte de civis, é submetido a julgamento por tribunal militar no seu regresso à Dinamarca, onde o esperam a mulher, Maria/Tuva Novotny, e os seus três filhos. 
                     
   A primeira questão que o filme levanta é se, com o conhecimento que tinha, o comandante Pedersen tinha legitimidade para naquele momento ordenar fogo sobre aquele edifício. Absolvido por causa do depoimento de uma testemunha, um dos seus homens que inventa o que diz para salvaguarda do seu comandante, a legitimidade dessa mentira é uma segunda questão interessante do filme.
   Cinematograficamente escorreito e sem complicações formais, com uma primeira hora quase toda ela desprovida de música no teatro de operações "Uma Guerra" confronta-nos com factos que o tribunal desconhece (que a verdade perante ele afirmada é uma mentira) além daquilo que ele vai apreciar, que inclui fotografias que o protagonista desconhecia. Como em Alfred Hitchcock, o espectador sabe mais que algumas personagens, tanto como outras. Sozinho no escuro, no final Pedersen pensa. 
                     
     Desçam das cómodas alturas cinéfilas em que se movem, da duração dos planos e dos movimentos de câmara aos actores sublimes, e vejam este filme e como ele, com ele pensem nas questões que em termos dilemáticos demonstrativamente coloca. Morrem na mesma, mas morrerão menos estúpidos.

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