Prosseguindo o seu trabalho de proximidade, simples na aparência com a sua utilização da câmara mini DV e feliz na sua forma de diário íntimo, Alain Cavalier realizou "Le Paradis" (2014) a partir do texto bíblico, que passou no Arte na semana passada.
As referências verbais reflectem na actualidade sobre esse texto, indo da Odisseia ao Novo Testamento, do mítico ao sagrado, enquanto na imagem surgem a natureza no seu esplendor, objectos heteróclitos em diferentes escalas e personagens avulsas, que falam, respondem e lêem directamente para a câmara - e esta parte visual impõe-se pela sua variedade e originalidade.
Sem qualquer de retórica narrativa, as imagens são cativantes e surpreendem pela sua autenticidade, e as palavras fazem-nas assumir uma outra dimensão. A voz-off do próprio realizador, pouco mais que um sussurro, torna-se especialmente importante.
Construindo um labirinto subjectivo visual e sonoro para o qual nos convida e através do qual nos conduz num movimento poético, Alain Cavalier continua em "Le Paradis" um percurso pessoal original e muito criativo - sobre este cineasta, ver "A construção da memória", de 14 de Setembro de 2013, e "Filmar o amor", de 9 de Novembro de 2013.
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