“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Contos de Verão

   "Os Belos dias de Aranjuez"/"Le beaux jours d'Aranjuez", de Wim Wenders (2016), baseado em peça teatral de Peter Handke, é um filme centrado nos diálogos entre entre um homem e uma mulher, Reda Kateb e Sophie Semin, num jardim de Verão, diálogos supostamente sugeridos por um escritor, Jens Harser, que escreve dentro de casa.
                     
   Perante a câmara, que outro manteria estática, o cineasta multiplica os floreados movimentos de câmara por causa do 3D que aqui, depois de "Pina" (2011) volta a utilizar. Embora perceba penso que nada adianta o processo e a mobilidade da câmara quando o que está em causa é um diálogo, fastidioso, com alguns momentos em que evoca os filmes de Ingmar Bergman e de Alain Resnais quando eram novos e com remissões cinematográficas óbvias, talvez inacessíveis aos espectadores imbecilizados em tempos de pós-verdade.
   Sem surpresas, o filme evolui ao sabor das palavras que estabelecem variações sobre o pico do Verão e sobre o amor no passado que resultariam melhor sem o 3D e com a câmara fixa, quando assim o filme funciona para suposto espanto dos espectadores supostamente encantados, que perdem os diálogos por causa das imagens vistosas. Mas percebe-se que para o cineasta esteja aqui fundamentalmente em causa prosseguir a sua experimentação com uma nova tecnologia do cinema, o que é respeitável.
                      os belos dias de aranjuez leffest
   Por mim nada adianta, antes se perde, pese embora a relação com o escritor que ora segue ora antecipa as palavras, sem outro derivativo que não seja a música ocasional, o jardineiro/Peter Handke, um ou outro passante e a presença física e vocal de Nick Cave.
  Com um final resolvido com facilidade, em "Os Belos Dias de Aranjuez" passa por proeza técnica e experimentação o que se resolveria melhor sem tanto querer dar nas vistas. Sobre Wim Wenders, que deu o seu melhor nos seus filmes iniciais, até "O Estado da Coisas"/"Der Stand der Dinke" (1982) quando muito, ver "O poder da imagem", de 12 de Abril de 2015.   

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