“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Fazer ler

    Seguindo-se a "O cinema da poesia" (Sistema Solar/Documenta, 2012), o livro de Rosa Maria Martelo "Os nomes da obra - Herbero Helder ou o poema contínuo" (Lisboa: Sistema Solar/Documenta, 2016) prossegue o rumo temático do anterior num estudo alargado aplicado a Herberto Helder. Que eu saiba, o primeiro depois da morte do poeta após o nº36/37 da revista Relâmpago (Abril/Outubro 2015).
   Trata-se de uma temática que me diz muito: pelo enfoque e pelo poeta. A autora, porém, agarra-se à obra herbertiana com um fôlego de exegeta, com um projecto hermenêutico cerrado que envolve a comparação de textos, de poemas e de livros, que abre caminho para outros estudos futuros.
    Por aquilo que aqui nos dá Rosa Maria Martelo é credora do meu maior apreço como estudiosa e investigadora exigente. A sua leitura sistematiza, arruma e reflecte sobre uma obra magmática e proteiforme, instável e mutável, que se conta entre o mais importante que foi produzido pela poesia portuguesa ao longo da sua história.  
                                    
  O estudo exaustivo do que sai e do que entra de edição para edição, entre as recolhas de poesia toda ou de poemas completos como tal intitulados, passando pelo ofício cantante e as súmulas e abrangendo, embora em menor medida, os passos em volta e photomathom & vox, o que varia ao longo do tempo na escrita do poeta, o que ele subtrai e acrescenta está aqui encetado da melhor maneira, séria e rigorosa, que vai de par com a chamada de atenção para a relação directa dele com o cinema e  para as imagens verbais do seu "cinema da poesia".
  Retomando textos já publicados, aqui amplamente reformulados e articulados, sem se desviar do seu rumo a Autora desfaz en passant ideias menos favoráveis que surgiram em certa "crítica" a propósito dos seus últimos livros. A própria Rosa Maria Martelo se encarregará, espero, de prosseguir esta espécie de "poema contínuo" analítico e reflexivo sobre o texto poético deste poeta radicalmente diferente de todos os outros.
  Sobre Herberto Helder ver "Pessoa e o cinema", de 21 de Outubro de 2012, "Pontifex Maximus", de 30 de Maio de 2013, e "Obscuro sempre", de 27 de Março de 2015.

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