“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sem dó nem piedade

   Inspirado em "Les salauds se portent bien"/"The Bad Sleep Well"/"Warui yatsu hodo yoku nemuru" de Akira Kurosawa (1960) - inédito comercialmente e Portugal, onde o seu título seria "O Sono Justo dos Homens Maus" - e também em William Faulkner, a francesa Claire Denis realizou "Les salauds" (2013), com argumento de Jean-Pol Fargeot e seu, que é um excelente filme.
                      Vincent Lindon dans le film français de Claire Denis, "Les Salauds".
   Chamado do navio que comanda a Paris pela sua irmã Sandra/Julie Bataille, Marco Silvestri/Vincent Lindon torna-se amante de Raphaälle/ Chiara Mastroianni, casada com Edouard Laporte/Michel Subor, de quem tem um filho. A família Laporte teria prejudicado nos negócios Sandra e o seu marido, levado ao suicídio. Entretanto, a filha de Marco, Justine/Lola Creton, foi violada e ele tem aí contas a ajustar.
     Com um ritmo alucinante, o filme torna-se por vezes confuso até na sua ordem temporal mas bate forte e fundo, sem contemplações na sua rugosidade narrativa e formal, com uma geometria rigorosa dos planos que os torna, um a um, abismais prodígios visuais do cinema.
                     Chiara Mastroianni en "Los Canallas (Les Salauds)"
    "Les salauds" tem uma construção elíptica e o recurso frequente ao muito grande-plano permite à cineasta criar um filme com a sua marca pessoal, violento e extremamente bem feito, em que o protagonista joga um jogo duro no terreno do seu poderoso adversário e acaba com uma bala nas costas da parte de quem não o esperaria para que tudo continue como antes. 
    A diferença em relação ao mestre do género policial e criminal em França, Jean-Pierre Melville (1917-1973), reside essencialmente no estilo, o dele mais clássico, o de Claire Denis essencialmente moderno.
                     Claire Denis sur le tournage des "Salauds".
     "Les salauds" tem Sharunas Bartas como armador, apoio de Olivier Assayas e Leos Carax, fotografia de Agnès Godard, música de Stuart Staples, montagem de Annette Dutertre. Embora o Le Monde tenha escrito aquando da estreia do filme que Claire Denis não faz nada para ser amada, ela é sem dúvida uma das figuras maiores do cinema francês contemporâneo e uma das que mais amo - sobre a cineasta ver "Silêncios e corpos", de 25 de Março de 2013.

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