A terceira longa-metragem de Neill Blomkamp, "Chappie" (2015), devolve-nos o cineasta sul-africano em boa forma, de novo às voltas com a ficção-científica tratada em termos de Série B. Agora está em causa um robot que pensa e sente e, como tal, foi concebido para trabalhar para a polícia em Joanesburgo.
A questão passa-se em três tempos narrativos: a relação da criatura, Chappie/Sharito Copley, com o seu criador, Deon Wilson/Lev Patel, que trabalha numa empresa de inteligência artificial dirigida por Mchelle Bradley/Sigourney Weaver; o desvio do primeiro por um grupo de gangsters que prepara um assalto e o quer pôr a trabalhar para si; a rivalidade do segundo com um outro engenheiro da mesma fábrica, Vincent Moore/Hugh Jackman, que criou um outro robot que disputa a preferência das autoridades com o seu.
Valha o que valer a discussão da inteligência artificial nestes termos, na senda do "Robocop, o polícia do futuro"/"RoboCop" de Paul Verhoeven (1987), que tanto sucesso teve - foi feito um novo filme em 2014 por José Padilha - mas levando a ideia por outros caminhos "Chappie" de Neill Blomkamp consegue humanizar o seu robot e fazê-lo reagir por repetição daquilo que lhe dizem, que é uma coisa quando está com o seu criador e é outra quando está com o gang que o rapta.
Esta dualidade da máquina humanizada está bem explorada e está na origem de peripécias contraditórias e acção intensa, a que se vem juntar a tentativa de sabotagem do criador rival do robot rival e a posterior entrada em acção deste quando Chappie é dado como perdido para o crime.
Dado em termos quase infantis pois o protagonista aprende como uma criança e reage como uma criança, assumindo o gang como a sua família, o filme desenrola uma linha narrativa sóbria e clara com os seus meandros, que os actores valorizam com o seu talento e entrega total - o gang é composto por Ninja, Yo-Landi/Yo-Landi Visser e Amerika/Jose Pablo Castillo.
Com argumento do próprio realizador e de Terri Tatchell (a sua mulher que já fora co-argumentista de"Distrito 9"/"District 9", a sua longa de estreia em 2009), fotografia de Trent Opaloch (que exerceu idêntica função nos filmes anteriores do cineasta), música de Hans Zimmer (o mesmo de "Interstellar", de Christopher Nolan, 2014) e montagem de Julian Clarke (que também trabalhou nos filmes anteriores de Neill Blomkamp) e Mark Goldblatt, este é um filme muito bom que discute os limites da inteligência artificial e os do seu uso, o que o leva para um campo de ambiguidade muito curioso.
Sem espectaculares efeitos especiais, de uso nas grandes produções do género, justo e bem feito como filme da Série B. De tão perfeito, Chappie ressuscita-se e ressuscita o seu criador e outros fazendo para eles migrar a consciência, o que está por dentro da máquina e não se vê.
Por mim, robots só os que tiverem a capacidade de pensar e de sentir, que tenham medo da morte e queiram viver, como o Hall 9000 de "2001: Odisseia no Espaço"/"2001: A Space Odyssey", de Stanley Kubrick (1968) e agora Chappie. Sobre Neill Blomkamp, um realizador a acompanhar com atenção, ver "Isto sim", de 29 de Agosto de 2013.
Por mim, robots só os que tiverem a capacidade de pensar e de sentir, que tenham medo da morte e queiram viver, como o Hall 9000 de "2001: Odisseia no Espaço"/"2001: A Space Odyssey", de Stanley Kubrick (1968) e agora Chappie. Sobre Neill Blomkamp, um realizador a acompanhar com atenção, ver "Isto sim", de 29 de Agosto de 2013.
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