“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 4 de setembro de 2016

Simpático mas fraco

    "Por Aqui e Por Ali"/"A Walk in the Woods", de Ken Kwapis (2015), baseado em livro de Bill Bryson, era um projecto antigo de Robert Redford, que agora se concretizou. Previsto inicialmente por ele para si e Paul Newman, acabou por ver Stephen Katz destinado a Nick Nolte, ficando o papel do Bryson para o próprio Redford e o de Catherine, a mulher dele, para Emma Thompson.
    Neste caso é fundamental conhecer o escritor, aliás largamente traduzido em português, para perceber o alcance e todo o interesse deste filme - ou então chegar a ele depois do filme. Baseado na sua experiência de travessia do Appalachian Trail a pé narrada por ele próprio em livro, sem ser um grande filme é um filme simpático que não ofende.
                     
     Já em idade avançada, Bill Bryson arranja em Katz um companheiro para aquela longa travessia, e ao longo desta conserva-se um tom de humor que impõe um anedotário americano que permite, ainda assim, contrapor o espírito científico do primeiro ao carácter mais indisciplinado do segundo. Com a ajuda da figura de cada um, como um Quixote e um Sancho Pança.  
      Sem grandes acontecimentos que não sejam os da própria travessia e os que decorrem dos diálogos, antes com micro-acontecimentos tratados como sketches ligados apenas pelos protagonistas, embora não saiba explorar plenamente o magnífico cenário natural do caminho dos Appalaches "Por Aqui e por Ali" não deixa de chamar a nossa atenção por contraposição com o grande espectáculo hollywoodiano, que neste momento está abusivamente identificado com o cinema americano.   
                     
       É certo que a realização de Ken Kwapis é fraca, meramente correcta nos seus melhores momentos, mas na sua funcionalidade, com dois grandes actores em regime de auto-ironia tudo pode correr pelo melhor... isto é, tão bem quanto possível. Com as melhores intenções, Robert Redford não devia ter esperado tanto tempo para concretizar este projecto e teria sido preferível que tivesse ele próprio assumido a sua realização.  
        Em termos de cinema teríamos de comparar este filme com o "Route One USA", de Robert Kramer (1989), e então aí nada a ver. 

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