Depois de um "filme fácil", "Vencer a Qualquer Preço"/"The Program" (2015), Stephen Frears meteu-se a dirigir um filme verdadeiramente difícil, "Florence, Uma Diva Fora de Tom"/"Florence Foster Jenkins" (2016), com argumento de Nicholas Martin baseado na vida de uma personagem real.
Corre o ano de 1944 em New York quando uma actriz de sucesso em pequenas aparições teatrais e de variedade, a rica e ambiciosa Florence/Meryl Streep, quer à viva força treinar a sua voz como cantora de ópera, para o que, com a cumplicidade do marido, St. Clair Bayfield/Hugh Grant, um inglês na América como fraco actor, contrata um pianista privativo, Cosmé McMoon/Simon Helberg, e um professor de voz. Por momentos pensamos na Susan Alexander/DorothyComingore de "O Mundo a Seus Pés"/"Citizen Kane", de Orson Welles (1941), a quem o professor começa por dizer "impossible, impossible, impossible".
No intuito de satisfazer o desejo dela de actuar em público, St. Clair, que leva uma vida dupla com consentimento da mulher, compra os que vão assistir para que se portem bem e aplaudam no final de cada actuação, convencendo assim Florence dos seus dotes e do seu talento vocal.
A popularidade da péssima cantora aumenta graças a uma gravação apoiada
pelos amigos de St Clair, e ela, que hesita na sua última actuação
pública para os militares americanos, acaba por ser persuadida da verdade pela
crítica da imprensa a que dificilmente tem acesso: um jornalista no New York Post,
que não aceitara vender-se, acaba por assistir a essa última apresentação pública e sobre ela
escreve. Esta parte final do filme está especialmente conseguida.
Mas o grande mérito de "Florence, Uma Diva Fora de Tom" acaba por recair em Meryl Streep, que consegue aguentar a sua personagem em auto-ilusão induzida, que não se apercebe, porque o vive, do seu ridículo que nós, que assistimos a tudo de fora desde o início, percebemos imediatamente, mesmo antes dos espectadores da sala ao vivo. O que nos impede de rir, antes nos constrange. Incrivelmente difícil, o trabalho da actriz dá aqui plenamente conta do seu enorme talento - Florence Foster Jenkins é a sua melhor interpretação de tempos recentes, ao que a realização de Stephen Frears não é de modo nenhum alheia.
Mas o grande mérito de "Florence, Uma Diva Fora de Tom" acaba por recair em Meryl Streep, que consegue aguentar a sua personagem em auto-ilusão induzida, que não se apercebe, porque o vive, do seu ridículo que nós, que assistimos a tudo de fora desde o início, percebemos imediatamente, mesmo antes dos espectadores da sala ao vivo. O que nos impede de rir, antes nos constrange. Incrivelmente difícil, o trabalho da actriz dá aqui plenamente conta do seu enorme talento - Florence Foster Jenkins é a sua melhor interpretação de tempos recentes, ao que a realização de Stephen Frears não é de modo nenhum alheia.
Do mesmo passo que expõe os bastidores do mundo do teatro novaiorquino e a criação do sucesso e da popularidade na sociedade americana do espectáculo, sempre com a indispensável participação das audiências mesmo se não convencidas da melhor maneira, "Florence, Uma Diva Fora de Tom" de Stephen Frears consegue apresentar a sua protagonista como alguém crédulo e ingénuo, que devido aos seus sonhos de grandeza acaba por morrer, sonhando com o sucesso que ambicionara mas não tivera a não ser fictivamente, ao saber a verdade a seu próprio respeito.
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