A exposição "António Ole. Luanda, Los Angeles, Lisboa", uma retrospectiva do grande artista angolano patente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian com Rita Fabiana e Isabel Carlos como curadoras, é uma oportunidade única para ficar a conhecer uma obra riquíssima que cobre 50 anos de produção artística multímoda, original e muito importante.
Tive o privilégio de acompanhar esta tarde a visita guiada do artista em conversa com as duas curadoras e de ouvi-lo falar extensamente sobre cada obra exposta, com referências à escravatura, ao colonialismo, à fragilidade e à dignidade de um povo pobre, à grandeza da sua memória, mas também aos diferentes materiais com que trabalhou. Como constante, a grande capacidade de conceber o limite do quadro de cada obra, pintura, colagem, instalação, fotografia, cinema, como corte que delimita um campo, um espaço que assim se define em que as formas e os volumes proliferam.
Trabalhada por uma intensa poética do material banal, da sombra e da luz, com um extraordinário domínio dos materiais, das formas, das cores e do preto e branco, a obra de António Ole agora exposta é de visita obrigatória para quem quiser conhecer o melhor da arte africana e da arte contemporânea em todo o seu esplendor, que a ideia de inacabado, de incompleto por vezes trabalha. Destaco especialmente as instalações Pai e Margem da Zona Limite na obra muito variada, marcada pelo simbólico e por uma muito visível linha do tempo, de um homem sempre atento à realidade em sua volta.
Com coordenação científica de Isabel Carlos e Rita Fabiana, o catálogo cumpre muito bem a sua função. Fico à espera de todos os filmes do artista, que no cinema se interessou especialmente pelo documentário, dos quais me lembro apenas de coisas antigas e soltas mas muito boas. Sobre António Ole ver "Um artista africano", de 19 de Setembro de 2015.
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