“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sábado, 17 de setembro de 2016

Um artista admirável

     A exposição "António Ole. Luanda, Los Angeles, Lisboa", uma retrospectiva do grande artista angolano patente no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian com Rita Fabiana e Isabel Carlos como curadoras, é uma oportunidade única para ficar a conhecer uma obra riquíssima que cobre 50 anos de produção artística multímoda, original e muito importante.
     Tive o privilégio de acompanhar esta tarde a visita guiada do artista em conversa com as duas curadoras e de ouvi-lo falar extensamente sobre cada obra exposta, com referências à escravatura, ao colonialismo, à fragilidade e à dignidade de um povo pobre, à grandeza da sua memória, mas também aos diferentes materiais com que trabalhou. Como constante, a grande capacidade de conceber o limite do quadro de cada obra, pintura, colagem, instalação, fotografia, cinema, como corte que delimita um campo, um espaço que assim se define em que as formas e os volumes proliferam.
                      
     Trabalhada por uma intensa poética do material banal, da sombra e da luz, com um extraordinário domínio dos materiais, das formas, das cores e do preto e branco, a obra de António Ole agora exposta é de visita obrigatória para quem quiser conhecer o melhor da arte africana e da arte contemporânea em todo o seu esplendor, que a ideia de inacabado, de incompleto por vezes trabalha. Destaco especialmente as instalações Pai e Margem da Zona Limite na obra muito variada, marcada pelo simbólico e por uma muito visível linha do tempo, de um homem sempre atento à realidade em sua volta.
       Com coordenação científica de Isabel Carlos e Rita Fabiana, o catálogo cumpre muito bem a sua função. Fico à espera de todos os filmes do artista, que no cinema se interessou especialmente pelo documentário, dos quais me lembro apenas de coisas antigas e soltas mas muito boas. Sobre António Ole ver "Um artista africano", de 19 de Setembro de 2015.

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