“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

De todas as cores

     "Os Sete Magníficos"/"The Magnificent Seven", de Antoine Fuqua (2016), o remake de "Os Sete Samurais"/"Shichinin no samurai", de Akira Kurosawa (1954), e do filme homónimo de John Sturges (1960), que era já um primeiro remake americano do filme anterior, é um filme que merece o meu apreço e que pelas melhores razões chama a atenção  para o seu realizador, um homem experiente e com uma obra já apreciável atrás de si, que começou a ser notado a partir de "Dia de Treino"/"Training Day" (2001), a sua terceira longa-metragem.
     Sem se prender a nenhum antecedente específico, com argumento de Richard Wenk e Nic Pizzolatto baseado no argumento de Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni envolve os protagonistas, homens de todas as cores, idades e credos, num confronto impidoso com o péssimo senhor do ouro, das terras e dos homens, Bartholomew Bogue/Peter Sarsgaard, a pedido da população de Rose Creek encabeçada por Emma Cullen/Haley Bennett e Teddy Q/Luke Grimes.           
                      The Magnificent Seven Review: Action Packed But Empty                 
       Formado o grupo heterogéneo liderado por Sam Chisolm/Denzel Washington, composto por Josh Faraday/Chris Pratt, Goodnight Robicheaux/Ethan Hawke, um antigo confederado, Jack Horne/Vincent D'Onofrio, entrado em idade e gordo, Billy Rocks/Byung-hun Lee, chinês, Vasquez/Manuel Garcia-Rulfo, mexicano, e  Red Harvest/Martin Sensmeier, índio, em especial os quatro primeiros em composições notáveis, o filme identifica cada um deles e as respectivas ligações desde o seu início e a aceitação da missão que lhes é cometida.
     Num gesto aberto e muito bem utilizado, Antoine Fuqua não se limita a uma ou outra referência ao cinema americano, nomeadamente ao western, antes acolhe parte do melhor do cinema americano e do western "clássico" - para abreviar até Sam Peckinpah e Sergio Leone e passando inesperadamente por Orson Welles na figura de Jack Horne e no mais - as badaladas e o campanário - que até remete para Shakespeare. 
                                         
      Industriada a população no uso de armas de fogo e depois da partida, com regresso de Goodnight, o confronto sangrento dá-se ao amanhecer, com muitos mortos de um e do outro lado e com o duelo final entre Chisolm e Bogue resolvido por Emma depois de o primeiro ter explicado ao segundo de onde se conheciam - Goodnight dissera-lhe no início que se tratava apenas do futuro.
     Os mortos ficam, os vivos partem, mas todos os sete serão sempre lembrados pela população. Numa América dividida em termos raciais e políticos, a pluralidade deste "Os Sete Magníficos" está muito bem vista e é muito oportuna. Contra um homem riquíssimo que tudo e todos compra, mentiroso e traidor, que tudo destrói e todos mata, no limiar do filme de gangsters de forma inteiramente controlada.
                    The Magnificent Seven
       Não me parece sequer pertinente a comparação com o filme de John Sturges, porque este filme apoia-se mais no original de Akira Kurosawa e constrói-se hoje para o presente, um tempo em que o western, salvo muito escassas excepções - "O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford"/"The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford" (2007), de Andrew Dominik, e os dois últimos filme de Quentin Tarantino, "Django Libertado"/"Django Unchained" (2012) e "Os Oito Odiados"/"The Hateful Eight" (2015) - há muito deixou de ser um género popular e/ou pertinente no cinema americano (ver "Poética do western", de 29 de Setembro de 2013). 
      Apesar das suas muito óbvias referências à actualidade, que se compreendem, "Os Sete Magníficos" de Antoine Fuqua é um bom filme, dirigido com sabedoria e com grandes interpretações, um filme para ver e rever que marca a produção cinematográfica americana deste ano e rapidamente se tornará um filme de culto.

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