“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A linguagem e a ciência

   "O Primeiro Encontro"/"Arrival", a mais recente longa-metragem de ficção do canadiano do Quebec instalado em Hollywood Denis Villeneuve (2016), é um filme de ficção científica inteligente e bem feito, que levanta questões pertinentes e interessantes.
                     
   Com argumento de Eric Heisserer (também produtor executivo) baseado no conto "Story of Your Life", de Ted Chiang, o filme centra-se no encontro dos terrestres com extra-terrestres que chegam à Terra pela primeira vez e com os quais é preciso estabelecer diálogo. A chefia militar americana na pessoa do Coronel Weber/Forrest Whitaker recorre a dois especialistas, Loise Banks/Amy Adams, professora de literatura e tradutora especializada em diferentes línguas humanas, e Ian DonnellyJeremy Renner, um cientista da linguagem.
   Mas a construção temporal é um primeiro elemento muito bom, com o filme a começar pelo fim e a acabar no início, enquanto, ao fim de múltiplos e difíceis esforços dos dois protagonistas que aliam a linguística e a ciência, é conseguido um contacto em termos de entendimento mútuo com os extra-terrestres em que estes explicam que o fundamental que têm a comunicar é o tempo e que prevêm, antecipam o futuro.
                      arrival-jeremy-renner-5.jpg
   A própria parte nodal do contacto estabelecido e da sua dificuldade está bem tratada e bem resolvida, primeiro com uma barreira transparente entre os interlocutores, depois com a entrada de Louise na nave que aterrara no Montana, uma de doze, um casulo. Este "O Primeiro Encontro", não é, pois, mais um banal filme de ficção científica, quer pela sua construção temporal entre os terrestres, quer pelos efeitos especiais e visuais dos alienígenas, perfeitos com recurso à animação, quer pela questão que coloca desde cedo de saber o que é mais importante, central e básico, a linguagem ou a ciência - os ecos de outros contactos noutras partes do globo coadjuvam e completam o quadro do contacto que acompanhamos.
    Os actores principais, a que haverá que acrescentar Michael Stuhlbarg como agente Halpern do lado das autoridades ("os palhaços" como lhes chamam os protagonistas), estão muito bem, com realce de novo para Amy Adams no mesmo ano de "Animais Nocturnos"/"Nocturnal Animals" de Tom Ford (ver "Preciso, com enigma", de 9 de Dezembro de 2016), e além deles pouco mais há a destacar nas interpretações salvo a filha de Louise, Hannah, em diversas idades
                      How do the captivating beasts in Arrival stack up to other interstellar invaders?
     A fotografia de Bradford Young em tons escuros é muito boa, a música de Jöhann Jöhannsson está muito apropriadamente utilizada ao ponto de em certos momentos tomar conta do filme, e a montagem de Joe Walker é perfeita.
    Para quem pudesse pensar que já não havia nada de novo a dizer em termos de ficção científica no cinema será uma boa surpresa pois este é um dos grandes filmes do género. Denis Villeneuve continua a dar muito boa conta de si e à luz deste novo filme até compreendo melhor o seu "O Homem Duplicado"/"Enemy" (2013), baseado em José Saramago - sobre o cineasta ver "Equívoco", de 6 de Julho de 2014, e "Geometria negra", de 23 de Outubro de 2015.

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