Luzes, pequenas luzes no escuro atravessam lentamente um espaço negro na imagem num ecrã pequeno. Pontos luminosos indeterminados quando vistos à distância, como se fossem peixes no mar. Aproximo-me devagar e as coisas revelam-se com nitidez: são lanternas na cabeça de gente que se move no escuro. Não tão lentamente como me tinha parecido, pelo contrário.
O que será que se movimenta no escuro em volta, no pequeno ecrã e na sala, pergunto-me.
"A 5100 metros (16.700 ft), o extenso acampamento mineiro Andino em La Rinconada, no canto sudeste do Perú, pertíssimo da fronteira com a Bolívia, é o local mais elevado habitado no globo terrestre, albergando uma população de cerca de 30.000 indivíduos, na sua maioria desesperadamente pobres."
Sabendo-o agora pergunto-me como será viver a tal altitude e percebo que aquela escuridão em volta é como uma pele que envolve ossos, vísceras da terra, que se acomodam a tudo em desconforto e grande privação: os seres que se movem sobre um solo irregular .
"O plano fixo, sem som, filmado em La Compuerta, um dos principais acessos às bocas das minas, é uma assombrosa e misteriosa realidade etnográfica, onde um fluxo constante de mineiros, comerciantes e famílias, irrompem pela escuridão, desaparecendo no dentro e fora de campo. Uma ilusão que leva os homens à autodestruição, movidos pelos mesmos interesses, utilizando as mesmas ferramentas e os mesmos meios dos tempos antigos na contemporaneidade."
As luzes e os vultos, os seres sobre cujos capacetes estão as luzes aparecem e desaparecem por todos os lados, numa caminhada sem fim que se renova, recomeça sempre como se voltasse ao princípio mas é sempre nova: em frente, subindo e descendo, surgindo para logo a seguir desaparecer.
O que será que se movimenta no escuro em volta, no pequeno ecrã e na sala, pergunto-me.
"A 5100 metros (16.700 ft), o extenso acampamento mineiro Andino em La Rinconada, no canto sudeste do Perú, pertíssimo da fronteira com a Bolívia, é o local mais elevado habitado no globo terrestre, albergando uma população de cerca de 30.000 indivíduos, na sua maioria desesperadamente pobres."
Sabendo-o agora pergunto-me como será viver a tal altitude e percebo que aquela escuridão em volta é como uma pele que envolve ossos, vísceras da terra, que se acomodam a tudo em desconforto e grande privação: os seres que se movem sobre um solo irregular .
"O plano fixo, sem som, filmado em La Compuerta, um dos principais acessos às bocas das minas, é uma assombrosa e misteriosa realidade etnográfica, onde um fluxo constante de mineiros, comerciantes e famílias, irrompem pela escuridão, desaparecendo no dentro e fora de campo. Uma ilusão que leva os homens à autodestruição, movidos pelos mesmos interesses, utilizando as mesmas ferramentas e os mesmos meios dos tempos antigos na contemporaneidade."
As luzes e os vultos, os seres sobre cujos capacetes estão as luzes aparecem e desaparecem por todos os lados, numa caminhada sem fim que se renova, recomeça sempre como se voltasse ao princípio mas é sempre nova: em frente, subindo e descendo, surgindo para logo a seguir desaparecer.
"Mount
Ananea (5853)" é uma instalação de Salomé Lamas, escrita, fotografada e realizada por ela para a Fundação de Serralves (2015), até 9 de Fevereiro de 2017 patente na Galeria
Miguel Nabinho, em Lisboa, que contém excertos
rodados "durante a fase de pesquisa e
desenvolvimento (Setembro/Outubro 2014) da longa-metragem "Eldorado XXI" (2016)", Grande Prémio do Porto/Post/Doc de 2016, com estreia em Portugal
prevista para Janeiro de 2017 - uma boa notícia.
O plano fixo, sem som, faz-nos questionar sobre um formigar misterioso, funcionando como enigma, desafio lançado no presente ao espectador no seu conforto, também intelectual e moral. "Quase todas as minas e os mineiros lá são 'informais', um termo que os mais críticos consideram um eufemismo para ilegal. (Outros) preferem o termo 'artesanal'. As minas, ou o que quer que lhes chamemos, são pequenas, numerosas, não-regulamentadas, e, regra geral, imensamente inseguras." (William Finnegan in The New Yorker, 20 de Abril de 2015).
O efeito de concentração no espaço e de movimento contínuo desenrola-se ao longo de 20
minutos, vídeo, HD transferido para filme 16mm, cor, sem som, em loop, num ecrã pequeno, em que a concentração espacial, o
movimento contínuo, o contraste das luzes que atravessam as trevas e percorrem o espaço
impressionam e desconcertam, primeiro, cativam depois.
Que fazer com este filme em que passam diante de nós mineiros, comerciantes e famílias não identificados nem individualizados que não seja reconhecer a beleza de tudo e tentar descobrir um sentido onde ele não existe de forma patente. São formas, cores, luzes e muitas sombras com gente lá dentro. Sem narrativa, o efeito obtido é sobretudo estético. Com o conhecimento do que está em causa é também económico, social e político além de etnográfico.
"A maioria (dos trabalhadores) não tem salários, muito menos benefícios, mas trabalham com um antigo sistema de trabalho chamado cachorreo. Este sistema é normalmente descrito como trinta dias de trabalho não remunerado, seguidos de um dia frenético em que os trabalhadores ficam com o ouro que conseguirem recolher para eles mesmos." (William Finnegan, citado).
"A maioria (dos trabalhadores) não tem salários, muito menos benefícios, mas trabalham com um antigo sistema de trabalho chamado cachorreo. Este sistema é normalmente descrito como trinta dias de trabalho não remunerado, seguidos de um dia frenético em que os trabalhadores ficam com o ouro que conseguirem recolher para eles mesmos." (William Finnegan, citado).
"Mount
Ananea (5853)" está agora em Lisboa, o que me dá muito jeito porque não a vi em Serralves. Claro que Salomé Lamas é uma artista visual, performer e cineasta de quem toda gente fala, que está na moda, pelo que aqui se vê justificadamente, e vos interessa conhecer. Já responsável pelo documentário "Terra de Ninguém" (2012) e inúmeros outros trabalhos de performance e instalação, Salomé Lamas é muito definidamente um nome a reter e a seguir com toda a atenção.
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