“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

domingo, 11 de dezembro de 2016

Alberto Seixas Santos (1936-2016)

     Figura maior do Cinema Novo português dos anos 60/70, de que foi a "consciência teórica", depois das curtas-metragens "A Arte e o Ofício de Ourives" e "Indústria Cervejeira em Portugal" (1968) emergiu na longa-metragem com "Brandos Costumes"  (1975), começado antes mas só finalizado depois do 25 de Abril.
    Antes disso tinha frequentado o curso de Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa, feito crítica de cinema e sido dirigente cineclubista, frequentando a Cinemateca Francesa de Henri Langlois em Paris e uma escola de cinema em Londres na primeira metade dos anos 60. No final da mesma década esteve na criação do Centro Português de Cinema financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que dirigiu, decisivo para o arranque
da segunda fase do nosso Cinema Novo.
                        Padrinho           
    Opositor do Estado Novo, a ele dedicou "Brandos Costumes", filme mítico na sua estética intransigente do plano-sequência e da recitação do texto para a câmara, escrito pelo realizador e Luiza Neto Jorge (1939/1989) - que também fez os diálogos de "A Ilha dos Amores", de Paulo Rocha (1982) - com diálogos desta e de Nuno Júdice, numa estratégia fílmica que só Manoel de Oliveira, Paulo Rocha e António Reis, cada um a seu modo, na senda de trabalhos anteriores viriam a seguir. Mesmo aqueles que não o aceitavam compreenderam o distanciamento que ele assim convocava e que nem todos acompanhavam, como não acompanharam noutros - Straub/Huillet, Godard, Pedro Costa, Vítor Gonçalves além dos já mencionados -, um distanciamento que nele ela deliberadamente convocado como motivo de reflexão e parte de uma ideia própria do cinema como arte.
     Depois de ter participado em dois filmes colectivos, "As Armas e o Povo" (1975) sobre o 25 de Abril e "A Lei da Terra" (1975), do Grupo Zero de que foi um dos fundadores, sobre a Reforma Agrária, realizou "Gestos e Fragmentos" (1982) em que filma um diálogo entre Otelo Saraiva de Carvalho e Eduardo Lourenço sobre Portugal, os militares e o poder, com a intervenção do cineasta independente americano Robert Kramer (1939-1999). Foi também um professor de referência da Escola de Cinema do Conservatório Nacional, depois Escola Superior de Teatro e Cinema, muito apreciado pelos seus alunos que influenciou, presidiu ao Instituto Português de Cinema e foi director de programas da Radiotelevisão Portuguesa.
                     
    A sua obra, escassa, prosseguiu com "Paraíso Perdido" (1995), escrito por si e António Cabrita, "Mal" (1999), com argumento seu, a curta-metragem "A Rapariga da Mão Morta" (2005), escrito por si e Maria Velho da Costa, e "E o Tempo Passa" (2011), que escreveu com Catarina Ruivo e tem diálogos de Maria Velho da Costa, filmes de reflexão crítica sobre Portugal e os portugueses 
    Com a obra que nos deixou, o seu conhecimento do cinema e o seu pensamento sobre o cinema, a sua cultura, o seu bom gosto e o seu exemplo tornaram-no uma das personalidades mais respeitadas e influentes do cinema português dos últimos 50 anos.
                      Retrospetiva Alberto Seixas Santos decorre entre 21 e 30 de março
     Foram inteiramente merecidas as sucessivas homenagens da Cinemateca Portuguesa a um homem que era "muito lá de casa" e tinha feito o melhor da sua formação na Cinemateca Francesa de Henri Langlois. Em 2014 Luís Alves de Matos dedicou-lhe o documentário "Refúgio e Evasão". Uma das suas últimas entrevistas, inédita, de 20 de Novembro de 2012, consta em anexo do livro "Cinema Português - Intersecções Estéticas nas Décadas de 60 a 80 do Século XX", de Nelson Araújo (Lisboa: Edições 70, 2016). Sobre ele ver "Um requiem português", de 30 de Março de 2012, e "Uma ideia original", de 30 de Julho de 2012.

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