"Animais Nocturnos"/"Nocturnal Animals" tem argumento (baseado em novela de Austin Wright), produção e realização de Tom Ford (2016), um realizador considerado pelo The New York Times de 2 de Dezembro passado como um dos sete autores que estão a mudar o cinema, o que talvez seja exagero.
O filme decorre entre a leitura por Susan Morrow/Amy Adams de um livro que lhe é enviado pelo seu ex-marido Edward Sheffield/Jake Gillenhall com o pedido de que lhe dê uma opinião e a visualização daquilo que o livro narra, um assalto na estrada a Anthony Hastings/Jake Gillenhaal que acaba com o rapto e a morte da sua mulher, Laura/Isla Fisher, e filha, India/Ellie Bamber, que o acompanhavam.
Desta forma é-nos dado o adentrar-se de Susan naquilo que lê, que inclui a caça aos assassinos por Bobby Andes/Michael Shannon, uma leitura nocturna precedida pela aparição do seu segundo marido, Hutton Morrow/Armie Hammer e seguida pela sua reaproximação do primeiro, Edward, o autor do livro que ela lê e imagina - que tem por título "Animais nocturnos" - interpretado pelo mesmo Jake Gillenhaal que interpreta Anthony, a personagem do livro.
Pode encontrar-se alguma originalidade na visualização do livro dentro do filme, o resto, com a previsível traição matrimonial de Hutton, a mistura para a leitora entre realidade e ficção e os seus flashes do passado com Edward é sobejamente conhecido para surgir como novidade. Ao tentar aguentar-se no final como melodrama "Animais nocturnos" joga na ambiguidade e perde claramente em relação a, por exemplo "Duplo Amor"/"Two Lovers", de James Gray (2008) ao tentar evocar os clássicos do género.
O trabalho técnico e o dos actores é irrepreensível, a alusão à violência que alastra na sociedade americana é justa, mas o filme não aparenta acrescentar nada de novo a não ser a ambiguidade do assassino que foge (o enigmático "terceiro homem"), o que, juntamente com o aprumo de Amy Adams, talvez seja o enigma da narrativa dentro do filme, que é um filme dentro deste, enigma construído pela realização que, pelos termos em que é feito e pelas suas consequências, acrescido ao mais permitirá vislumbrar um princípio de mudança no cinema americano como proposto por Mary Kaye Schilling no Times.
Quando muito este "Animais nocturnos" de Tom Ford tem uma realização precisa baseada numa boa planificação, o que o torna aceitável, digno de registo a par de "Um Homem Singular"/"A Single Man" (2009), o seu filme de estreia, sem grandes novidades se comparado, por exemplo, com "Mulholland Drive", de David Lynch (2001), mas mesmo assim é merecedor de atenção especial por aquilo em que nos resiste e desafia Susan.
Quando muito este "Animais nocturnos" de Tom Ford tem uma realização precisa baseada numa boa planificação, o que o torna aceitável, digno de registo a par de "Um Homem Singular"/"A Single Man" (2009), o seu filme de estreia, sem grandes novidades se comparado, por exemplo, com "Mulholland Drive", de David Lynch (2001), mas mesmo assim é merecedor de atenção especial por aquilo em que nos resiste e desafia Susan.
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