"O Vendedor"/"Forushande", o mais recente filme de Asqar Farhadi (2016), volta a encerrar um problema familiar com resolução dilemática, como vem sucedendo na obra deste cineasta iraniano.
Enquadrado pela representação teatral de "Morte de um Caixeiro Viajante", de Arthur Miller, em que o casal protagonista, Emad Etesami/Shahab Hosseini e Rana Etesami/Taarneh Alidoosti, participa, o filme envolve o assalto à nova casa deles e a agressão de que nessa ocasião Rana é vítima. Encontrar o culpado é a principal preocupação de Emad, enquanto ela lida com a difícil situação para si própria resultante.
A questão está bem resolvida com a identificação sucessiva do dono e do condutor da carrinha naquele dia, e o que então se passa constitui a parte decisiva do filme em que o agressor, para esclarecer o que se passou, e a agredida são colocados perante dilemas diferentes, enquanto um resto, um resíduo final dilemático fica para ser resolvido por Emad.
Este "O Vendedor" resolve-se a partir do argumento do próprio cineasta, dos actores e da realização, não ingénua e sem pressas que prolonga o interesse enquanto alarga e alonga o próprio filme e os seus diferentes mistérios. Dessa forma acontece entre as personagens aquilo que tem de acontecer, como se sem intervenção exterior, como pura adveniência de diferentes verdades em cada uma delas.
O cineasta volta a entregar-nos um filme exemplar em que são postas em confronto diversas responsabilidades, diferentes pontos de vista e diferentes propósitos. A mediação teatral envolve um certo distanciamento sem anular a proximidade com o conflito encenado. Sobre Asqar Farhadi ver "Uma questão familiar", de 5 de Julho de 2012, e "A vida e a morte", de 31 de Dezembro de 2013.
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