"A Quietude da Água"/"Futatsume no mado" de Naomi Kawase (2014), que só agora pude ver no Arte, é um belo filme poético sobre a iniciação de dois jovens, anterior a "Uma Pastelaria em Tóquio"/"An" (2015), que estreou este ano entre nós - ver "Conto das flores de cerejeira", de 6 de Agosto de 2016.
Depois de terem encontrado um cadáver masculino na praia, dois jovens namorados, Kaito/Nijirô Murakami e Kiôko/Jun Yoshinaga, têm de conviver não sem dificuldades com os respectivos pais - a mãe dela, considerada uma chamã, está muito doente e o pai dele foi viver para Tóquio - enquanto eles os dois se mantêm próximos e andam na mesma bicicleta.
Desde a morte da cabra, com que começa, o filme sinaliza uma proximidade com a natureza e a aprendizagem da vida pelo jovem par, o que se dá de uma forma suave, oriental, ao sabor do tempo e da vida, não isenta de conflitos.
No fantástico rumor da natureza, vento nas árvores e ondas do mar, sobressaem as ideias de fusão, com as ondas do mar e no amor, e de aceitação daquilo que a vida destina a cada um - à mãe dela a morte, à mãe dele as acusações do filho, a cada um deles como aos demais num mundo em que tudo o que nasce é para morrer, tal como os próprios deuses, como diz o velho pescador.
A planificação de Naomi Kawase, também autora do argumento, é excelente, respeitando os espaços e adoptando por regra o mesmo plano para os diálogos do jovem par, enquanto o tempo como que se suspende quando os cânticos e danças acompanham a mulher muito doente, Isa/Miyuki Matsuda, a mãe de Kiôko.
Com a inclusão de cenas submarinas muito em filmadas e apropriadas dos dois jovens namorados, "A Quietude da Água" é mais um filme muito bom de Naomi Kasawe. Esta cineasta japonesa, cujos filmes nos estão agora a chegar e que começou no documentário, que não abandonou, merece de facto a nossa melhor atenção.
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