"Eu, Daniel Blake"/"I, Daniel Blake", o mais recente filme de Ken Loach (2016) que foi Palma de Ouro em Cannes este ano, é um filme magnífico que representa o apogeu da arte do cineasta.
O protagonista, interpretado por Dave Johns é um trabalhador com uma doença cardíaca que o coloca entre a reforma por invalidez e o desemprego, que tem a maior dificuldade em entender o que lhe dizem funcionários da segurança social que se limitam a debitar a seu respeito a cartilha que sabem de cor. Sem terem minimamente em atenção o facto de que, com a sua idade e na sua situação, ele quer voltar a trabalhar mas está confuso e não sabe nada sobre a internet em que é suposto preencher formulários.
Com as referências pertinentes ao meio local, de bairro, Ken Loach centra-se sobretudo na família monoparental de Katie/Hayley Squires que, repelida pelos serviços, se vê em dificuldades para sobreviver. Aí Daniel, viúvo, faz a figura de avô, com referências à sua mulher desaparecida.
Não vos vou contar a história do filme, que merece ser visto mesmo sem se saber nada sobre a sua evolução, mas chamo a atenção para que, sobre argumento de Peter Laverty, que com ele colabora regularmente há 20 anos, o realizador não se poupa nem poupa o seu protagonista, parte de uma classe operária que de maneira nenhuma edulcora.
Refiro, em todo o caso, o encontro entre Daniel e Katie, as repetidas dificuldades dele com os serviços, a surpresa dela na supermercado, o encontro clandestino de ambos, a exteriorização pública da sua revolta por Daniel e o final como pontos mais altos de "Eu, Daniel Blake", em larga medida filmado na rua, em cenários naturais.
Refiro, em todo o caso, o encontro entre Daniel e Katie, as repetidas dificuldades dele com os serviços, a surpresa dela na supermercado, o encontro clandestino de ambos, a exteriorização pública da sua revolta por Daniel e o final como pontos mais altos de "Eu, Daniel Blake", em larga medida filmado na rua, em cenários naturais.
Com filme sobre ele, "Versus - A Vida e os Filmes de Ken Loach"/"Versus: The Life and Films of Ken Loach" de Louise Osmond (2016), retrospectiva na Cinemateca Portuguesa e tudo, chegou a hora de todos prestarem a atenção que ele merece a este cineasta maior do nosso tempo.
Num tempo em que mais ninguém se preocupa com os trabalhadores, muito menos entre a reforma e o desemprego, a não ser como números e votos a sacar, nâo é apenas o gesto mas a grande qualidade dramática do filme e cinematográfica do seu autor que aqui se assinala e saúda. Nada acidental a segunda Palma de Ouro em Cannes por este filme - a primeira foi-lhe atribuída por "Brisa de Mudança"/"The Wind That Shakes the Barley" (2006) - o que o fez passar a integrar um clube muito restrito de grandes cineastas. Sobre Ken Loach ver "Boa colheita", de 29 de Agosto de 2014, e "Um belo trabalho", de 28 de Fevereiro de 2015.
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