É frequente
vermos filmes que procedem à adaptação de obras literárias. Esse é um
procedimento antigo no cinema, que tem dado bons e maus frutos mas é
sintomático de uma relação viva entre duas formas de expressão diferentes.
Também tem acontecido que a partir de filmes se publique o seu argumento, a sua
planificação ou os seus diálogos. O que já é menos frequente é vermos textos de
qualidade que deram origem a filmes de relevo serem publicados na sua forma
primitiva, ainda para mais quando da autoria de quem os veio a passar para o
cinema.
Ora é este
último o caso de "Seis Contos Morais", da autoria de Eric Rohmer, um
dos homens que estiveram na origem da "nouvelle vague" francesa.
Escritos, como o autor explica no preâmbulo, quando ainda não sabia que ia
fazer cinema, e mesmo que só tenham vindo a assumir plena expressão nos filmes
que dirigiu baseados neles, estes contos dão conta, de forma exemplar, da
evolução do processo criativo no cinema, no caso o de um dos grandes cineastas
do seu e do nosso tempo.
Publicados
originalmente em 1974, já depois de concluída a série de filmes com o mesmo
título que o autor dirigiu a partir deles, que constituiu o primeiro ciclo de
filmes da sua obra - a que se seguiram "Comédias e Provérbios"
e "Contos das Quatro Estações", para além de filmes não incluídos em
qualquer dessas séries -, surgiram agora em tradução portuguesa, em edição da
responsabilidade das Edições Cotovia, de Lisboa, com data de edição de 1999.
Porque se trata de uma peça importante para a compreensão dos filmes neles
baseados e para a compreensão do processo criativo de um dos nomes maiores do
cinema contemporâneo, aqui fica a chamada de atenção e a sugestão de leitura
para quem se interessa mesmo pelo cinema. É que o cinema também é para ser
lido, como este caso evidencia, em especial quando escrito por um grande autor
(não exagero minimamente o qualificativo, como saberá quem conhece a obra de
Eric Rohmer) e quando devidamente traduzido, como neste caso acontece (tradução
da responsabilidade de Maria Jorge Vilar de Figueiredo).
Fevereiro 2001
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