Não conhecia nada de Marc Forster,
realizador de origem alemã e criado na Suíça que dirigiu já "Everything Put
Together" (2000) e de quem estreou a terceira longa-metragem, "Monster's Ball - Depois do Ódio"/"Monster's Ball" (2001). Ora trata-se de um filme com
muito interesse na forma simples como está construído e na
complexidade da problemática que trata: a pena de morte, a relação entre raças,
a relação entre sexos, a relação dos mais velhos com os mais novos, a solidão.
Hank
Grotowski/Billy Bob Thornton é o chefe de uma equipa de carrascos encarregue
de dar cumprimento à pena de morte, equipa de que faz parte o seu próprio filho
Sonny/Heath Ledger, que não se mostra à altura da tarefa quando da execução de
um condenado negro. Leticia Musgrove/Halle Berry é a mulher do condenado, que
lhe faz a última visita acompanhada pelo filho de ambos. Depois da execução,
Hank espanca o filho por ele ter dado mostras de fraqueza num momento
fundamental. De regresso a casa, e na presença do pai de Hank, este
confronta-se com Sonny, contrapondo-se o ódio do primeiro ao amor do segundo,
que o leva à morte.
Por
sua vez Leticia, uma vez só com o seu filho, assiste ao atropelamento deste e é
Hank, que passava acidentalmente, que o transporta ao hospital. Perante a morte
do filho dela, tornam-se os dois iguais nas respectivas situações de perda, perante uma
figura mais velha, o pai dele, assombrado ainda pelos fantasmas do racismo,
forma de intolerância e discriminação que dele Hank herdou sob outra forma. A partir daí o
filme vai situar-se na aproximação física e afectiva entre Hank e Leticia, e se
deve muito do seu êxito a um argumento que funciona de modo implacável (Milo Addica e Will Rokos), deve
outro tanto ao talento dos actores, Billy Bob Thornton numa composição
excepcional, para a qual a palavra tradicional, underacting, se revela
insuficiente, Halle Berry num desempenho notável, de grande densidade e vibratilidade, que
lhe valeu o Óscar da melhor actriz, e Peter Boyle como o pai decrépito mas
recalcitrante de Hank, Buck Grotowski.
De
facto, não sabemos que mais admirar, se a impassibilidade de Hank, que leva a
que seja conduzido para as situações mais do que seja ele a originá-las, se a
explosão de revolta de Leticia que a conduz à noite de embriaguês e inebriamento sexual, superiormente interpretada e dirigida.
"Monster's
Ball - Depois do Ódio" é, assim, um filme extremamente feliz e bem
conduzido, que acaba por centrar-se em duas solidões, a de Hank e a de
Leticia, que sobrevivem à perda dos que lhes são mais próximos para, vencidos
os obstáculos, se juntarem serenamente na soleira da porta de casa a contemplar
o céu. Serão duas solidões que se acompanham uma à outra.
Marc Forster sai-se muito bem deste filme
que ritma com a secura que corresponde à maneira de ser do protagonista, que
como que conduz a narrativa de princípio a fim. Se a sorte protege os audazes, este novo cineasta mostra merecer aquela que lhe coube ao receber o encargo de
realizar este filme, do que se sai a contento, mesmo com brilhantismo, tirando
o melhor partido de todos os talentos com que lhe coube lidar. Sem miserabilismo,
antes segurando muito bem o filme entre o melodrama e o drama realista, Marc
Forster mostra-se possuidor de um talento próprio para o cinema que permite
depositar nele confiança para o futuro, até pela sobriedade e segurança que
aqui demonstra, sem concessões de nenhuma espécie. Quanto aos actores, o mínimo
que se pode dizer é que vêm confirmar que são americanos alguns dos melhores actores
de cinema do mundo.
Dezembro 2006
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