O dinamarquês
Lars von Trier é um dos mais desconcertantes cineastas da
actualidade. Tendo-se iniciado no cinema com uma imagem de rigor estético e de
ausência de concessões ao gosto dominante, veio a integrar o grupo denominado Dogma 95, que permitiu a
diferentes cineastas de diversas proveniências trabalhar de acordo com regras
precisas, uma das quais era a possibilidade de infracção dessas mesmas regras.
Depois de ter
criado uma primeira trilogia, composta por "Element of Crime" (1984),
"Epidemic" (!987) e "Europa" (1991), dirige o filme, que
também foi série de televisão "O Reino"/"Riget" (1994). A
partir de 1995 lança-se numa nova série de filmes que acaba por
constituir uma
nova trilogia: "Ondas de Paixão"/"Breaking the Waves" (1996), "Os
idiotas"/"Idioterne" (1998) e o recém-estreado "Dancer in the Dark"
(2000), Palma de Ouro e prémio da melhor interpretação
feminina para Björk no Festival de Cannes.
O que de uma forma encantatória o cineasta nos dá neste seu último filme é
a memória do cinema musical como processo de criação de um imaginário
feliz
para a protagonista, Selma/Björk (uma imigrante checa que foi para os
Estados Unidos com o filho Kostic/Gene Ježek), no meio das suas dificuldades, do seu sacrifício,
do seu sofrimento.
E fá-lo de três modos diferentes: através da assistência, por ela e por
Kathy/Catherine Deneuve, à projecção de filmes musicais antigos, através
da
participação de ambas nos ensaios de uma peça musical inspirada em
"Música
no Coração"/"The Sound of Music" e sobretudo por intermédio das coreografias inventadas a
partir da vida real pelo devaneio da protagonista.