Terrence
Malick terá nascido no Texas em 1943, tendo-se licenciado em filosofia em
Harvard em 1965 com uma tese sobre a teoria do conhecimento em Martin Heidegger,
em que teve como orientador o filósofo Stanley Cavell. Isto é dado como certo.
A partir daí as fontes tornam-se menos afirmativas: terá obtido uma bolsa de
estudo para fazer um doutoramento em Oxford, o qual não terminou por
desentendimentos com o seu orientador nessa universidade inglesa – propor-se-ia
tratar concepções do “mundo” em Heidegger, Kierkegaard e Wittgenstein, segundo
uns, teria viajado pela Alemanha durante os anos 60 do século passado, aí teria
conhecido pessoalmente Heidegger e feito uma tradução de ”A essência do
fundamento”, segundo outros. Seja como for, não terá concluído o doutoramento,
o que é dado como certo, e terá regressado aos Estados Unidos, onde terá
ensinado filosofia no famoso M. I. T. e publicado artigos na Newsweek, no New Yorker e na Life, o
que também é dado como certo.
Entretanto,
em 1969 terá publicado a sua própria tradução de Heidegger, que já referi, e
terá entrado no American Film Institute, no Center for Advanced Film Studies,
onde terá obtido o respectivo diploma e feito contactos muito úteis, com gente
como Jack Nicholson e o agente Mike Medavoy.
O pensamento de Malick
leventará um tipo de questões que, no pensamento americano, o colocam
próximo de Henry D. Thoreau, Walt Whitman, Herman Melville, nomeadamente, isto
é, de pensamentos fundamentais na criação da modernidade americana.
Entretanto,
e a meio dos “seventies”, faz dois filmes, “Os Noivos Sangrentos”/”Badlands”
(1973) e “Dias do Paraíso”/”Days of Heaven” (1978), com melhor crítica que
receitas e… desaparece. Isso mesmo: desaparece da circulação, o que leva a que
seja comparado a escritores como J. D. Salinger e Thomas Pynchon (algumas
fontes dão-no como a viver e a ensinar em Paris, França e no Texas), até
reaparecer para fazer “A Barreira Invisível”/”The Thin Red Line” no final do
século passado (1998) e recentemente “O Novo Mundo”/”The New World” (2005),
filmes que completam a sua escassa filmografia até hoje.
Quanto
ao motivo de tão longo afastamento e silêncio, todos dizem que foi por Malick
não se vergar às exigências da indústria cinematográfica, com a qual não
tiveram, contudo, grandes dificuldades outros cineastas da sua geração
(Spielberg, Copolla, Scorsese, De Palma, por exemplo, embora F. F. Copolla
tenha tido dissabores de produção e De Palma tenha feito os seus últimos filmes
na Europa.), o que torna o caso dele parecido com o de Michael Cimino, só que
este trabalhou até 1980, ano em que “rebentou” com a produtora de “As Portas do
Céu”/“Heaven’s Gate”, seu terceiro filme, e depois disso fez apenas mais quatro
filmes.
Se
falo disto é para contextualizar o cineasta no cinema americano, na sua
geração, a dos chamados “movie brats”, e para dizer que não tenho conhecimento
de projectos dele que durante a sua longa ausência do cinema não tenha podido
concluir.
Perante
este panorama, tão completo quanto possível, poderia ser uma tentação fazer uma
aproximação entre o cinema de Terrence Malick e o pensamento de Heidegger, mas
não foi essa a minha opção, até porque esse é um estudo que está feito por
vários autores. Preferi dedicar a minha atenção a aspectos formais dos filmes
dele que me parecem pouco frequentes no cinema actual, nomeadamente no cinema
americano, e que a meu ver definem a sua poética fílmica.
Os aspectos estilísticos definidores de uma poética do cineasta para que
pretendo fundamentalmente chamar a atenção são os seguintes:
- movimentos
de câmara;
- inserção de
grandes planos ou planos de pormenor de espaços vazios;
- tratamento
do tempo, isto é, montagem.
Esclareço
desde já que este último ponto, o tempo, a montagem, é a meu ver decisivo na
criação de uma poética fílmica, uma vez que, sendo o cinema uma arte do
movimento e do tempo, é o tratamento deste que vai permitir trabalhar aquele,
qualquer que seja o tipo de movimento (e de intriga, acrescente-se) que esteja em causa. Isto é uma
evidência para quem conheça alguma coisa da poesia como género literário.
No entanto, e se fizermos a distinção entre o tempo como questão poética e o tempo como questão fílmica, julgo que não terei grande dificuldade em fazer-me entender. Portanto, e para já, esqueçamos pura e simplesmente as palavras “poética” e “poesia” e falemos apenas de tempo fílmico.
No entanto, e se fizermos a distinção entre o tempo como questão poética e o tempo como questão fílmica, julgo que não terei grande dificuldade em fazer-me entender. Portanto, e para já, esqueçamos pura e simplesmente as palavras “poética” e “poesia” e falemos apenas de tempo fílmico.
Embora
hoje em dia nós não nos demos muito conta disso, foi por exigências de criação
temporal que foi criada uma linguagem cinematográfica, no início do século
passado. Na verdade, o cinema, que tinha nascido com o plano fixo de duração
muito limitada dos filmes dos irmãos Lumière, cedo se deu conta, através dos
seus criadores (dos criadores de filmes) de que era preciso contar uma
história, primeiro ponto, e de que era preciso fazer filmes mais longos,
segundo ponto, isto se queria passar de um mero invento científico e técnico.
Dito por outras palavras, para existir o cinema precisou de se viabilizar como
espectáculo e como indústria, e para isso precisou de atrair espectadores.
Espectadores que estivessem na disposição de pagar cada um muito pouco a troco
de algum tempo de diversão, de entretenimento. Ora para tal era preciso não só
contar histórias (e lembro-vos a importância da narrativa desde os primórdios
da Humanidade, da narrativa oral, da narrativa gráfica, desenhada, pintada, e
da narrativa escrita, e da importãncia da narrativa dos primórdios da
modernidade até à actualidade…) mas também variar, diversificar o modo de as
contar visualmente (e recordo que o cinema era inicialmente desprovido de som,
pelo menos na forma como o conhecemos actualmente).
A
linguagem cinematográfica que historicamente nasceu desta necessidade baseou-se
nos seguintes elementos, sem os quais o cinema não passaria de teatro filmado:
-
variação da escala dos planos;
-
variação do ângulo de tomada de vistas;
-
movimentos de câmara; e, por consequência necessária,
-
montagem.
Se
pensarmos só nos dois primeiros elementos, escala e ângulo, logo percebemos que
estão em causa vários planos e já não apenas um, o que exige imediatamente que
se faça a ligação entre esses vários planos. Ora essa é uma exigência com
óbvias implicações espaciais: há que criar um espaço fílmico espacialmente
consistente. Mas uma exigência que arrasta consigo inevitáveis implicações
temporais: quanto tempo fazer durar cada plano, cada sequência de planos, cada
filme.
Numa
lógica puramente representativa, segundo a qual o cinema é, deve ser uma mera
reprodução da realidade, não se levantam grandes questões temporais, já que o
filme deve adoptar o tempo estritamente necessário à reprodução do movimento,
humano ou outro. Mas o cinema cria blocos de movimento/duração, pensa com
blocos de movimento/duração (Gilles Deleuze), e chamo a atenção para que não é
apenas movimento nem apenas duração – apenas movimento seria teatro ou
animação, apenas tempo seria música.
Batemos
aqui numa questão central do cinema: é,
ou deve o cinema ser uma mera reprodução da realidade, uma representação da
realidade?
A
esta pergunta a resposta tem sido sempre afirmativa. O cinema representa a
realidade filmada. Todos sabemos, no entanto, que salvos raros e contados casos
de representação contínua, isto é, de coincidência do tempo fílmico e do tempo
real, o cinema não só selecciona o que filma como selecciona os momentos que
filma, normalmente de acordo com um guião prévio. Além disso, e como é óbvio, o
cinema, isto é, o criador do filme selecciona como filmar e estabelece o ponto
de vista no filme.
Nada
de muito importante, dir-me-ão, e serei o primeiro a concordar convosco.
Ninguém se interessa, ou cada vez menos se interessa em saber quem faz o filme,
quem é o autor – e contudo foi este o momento escolhido por Terrence Malick
para regressar ao cinema. Uma questão de tempo, de “timing”.
Voltemos,
pois, a Malick e aos seus filmes.
Talvez
que o elemento que mais singulariza os dois filmes iniciais dele seja
precisamente este: o tempo. É certo que eles têm elementos temáticos e
elementos formais, nomeadamente os que referi, movimentos de câmara e planos
vazios, que os caracterizam (e estou a falar apenas dos dois primeiros filmes
dele, "Os Noivos Sangrentos" e "Dias do Paraíso", neste momento), mas posso dizer que aquilo que neles em primeiro lugar
salta à vista, e de uma maneira chocante porque não habitual, é o tratamento do
tempo.
O
que a meu ver caracteriza o caso de Terence Malick é o tratamento musical do
filme em termos temporais, que é reforçado pela presença da voz-off narrativa.
Era aqui que eu queria chegar neste momento, para a partir daqui reflectir.
Que
tempo musical é este?
Se
bem atentarmos, os filmes de Malick passam-se, todos os quatro, em plena
natureza, no “wild country” os dois primeiros, numa ilha do Pacífico o
terceiro, na Virgínia do início do século XVIII o último. Isto é muito
evidente, mas quero aqui chamar a vossa atenção para isso porque penso que esse
elemento é fulcral nos filmes dele não apenas a um nível de maior evidência.
Malick pretende, nos seus filmes, inscrever as suas personagens na natureza em que se movimentam como elemento essencial delas, personagens, e deles, filmes. E aqui acho que devo ceder um pouco, mas só um pouco, o necessário para me fazer entender, à tentação de Heidegger. Há alguma coisa que das personagens o cineasta nos pretende desvendar que está ligado à natureza, e alguma coisa da natureza que ele nos pretende desvendar e que está ligado às personagens, e isso justifica, quanto a mim, o ritmo musical específico dos seus filmes. Um ritmo que não é apenas sonoro, entenda-se, porque o ritmo que aqui tenho em vista é visual, sonoro e audiovisual.
Malick pretende, nos seus filmes, inscrever as suas personagens na natureza em que se movimentam como elemento essencial delas, personagens, e deles, filmes. E aqui acho que devo ceder um pouco, mas só um pouco, o necessário para me fazer entender, à tentação de Heidegger. Há alguma coisa que das personagens o cineasta nos pretende desvendar que está ligado à natureza, e alguma coisa da natureza que ele nos pretende desvendar e que está ligado às personagens, e isso justifica, quanto a mim, o ritmo musical específico dos seus filmes. Um ritmo que não é apenas sonoro, entenda-se, porque o ritmo que aqui tenho em vista é visual, sonoro e audiovisual.
Eu
vou tentar explicar-me melhor.
Se
os filmes de Terrence Malick têm alguma coisa de um ritmo musical é, em
primeiro lugar, pela inserção de planos vazios, em segundo lugar pelos
movimentos de câmara, em terceiro lugar pela montagem visual e sonora.
Ora o que os referidos elementos criam nos filmes do cineasta é um ritmo da natureza e do humano nela, um ritmo que dá conta precisamente da adequação e da desadequação entre o ritmo humano e o ritmo natural. Penso que isto é muito importante, porque hoje em dia tendemos a medir tudo pelo nosso ritmo pessoal, sem percebermos que o nosso ritmo pessoal é aquele que nos é imposto pelo meio e pelo tempo em que vivemos. Ora o que o nosso cineasta faz nos seus filmes é puxar as personagens para um plano da natureza, não só ao inscrevê-las numa paisagem que define um determinado espaço (vegetação, água, rochas, céu) mas também intercalando planos de pormenor ou apertados de animais ou de outros elementos da natureza.
Ora o que os referidos elementos criam nos filmes do cineasta é um ritmo da natureza e do humano nela, um ritmo que dá conta precisamente da adequação e da desadequação entre o ritmo humano e o ritmo natural. Penso que isto é muito importante, porque hoje em dia tendemos a medir tudo pelo nosso ritmo pessoal, sem percebermos que o nosso ritmo pessoal é aquele que nos é imposto pelo meio e pelo tempo em que vivemos. Ora o que o nosso cineasta faz nos seus filmes é puxar as personagens para um plano da natureza, não só ao inscrevê-las numa paisagem que define um determinado espaço (vegetação, água, rochas, céu) mas também intercalando planos de pormenor ou apertados de animais ou de outros elementos da natureza.
Eu
não vou aqui dizer que o ritmo musical dos filmes de Malick é o deste ou
daquele compositor clássico, moderno ou contemporâneo. O que vou dizer é que
ele procura (e a meu ver consegue) impor nos seus filmes o ritmo da natureza (e
para isso servem o espaço escolhido e os citados planos vazios – vazios de
seres humanos, entenda-se), para nele inscrever as suas personagens com os seus
ritmos próprios decorrentes da irredutível individualidade de cada uma delas e
assim nos fazer entender, por comparação com a natureza, como cada um desses
ritmos individuais se define.
O que aqui pretendo dizer é que o acordo e o desacordo das personagens com
a natureza define o ritmo visual e também sonoro dos filmes de Terrence Malick,
e que isso nos é dado em termos puramente visuais e sonoros como superlativa
criação fílmica. Mas não apenas isso.
O
nosso cineasta não tem, salvo por momentos em “O Novo Mundo” e até em “A
Barreira Invisível”, a ideia de uma utopia do paraíso terreal ou do “bom
selvagem”, não nos quer convencer de
que a verdade, o bem, a beleza estão
na natureza por contraposição ao homem, à civilização, até porque – e é
necessário ver e entender isto – a
natureza nos filmes dele é naturalmente desregulada e naturalmente predadora.
Apenas nos quer mostrar como uma evidência que há a natureza e que há o homem e
que qualquer deles tem ritmos próprios, sendo que os deste podem ou não
adequar-se aos daquela.
De algum modo, essa evidência quer puxar-nos, como às suas personagens, para o ritmo da natureza como ritmo fundamental e primário, e isso tem o mérito de, na actualidade, chamar a atenção para aquilo a que tendemos a prestar cada vez menos atenção, nestas sociedades de consumo em que tudo consumimos sem saber tantas vezes o quê ou como se faz: a natureza. Daí que o percurso fílmico de Malick tenda para as origens: as origens do conflito, as origens da civilização, as origens do seu país, depois de ter andado não à toa pelo século XX americano (anos cinquenta, anos da I Grande Guerra, anos quarenta).
De algum modo, essa evidência quer puxar-nos, como às suas personagens, para o ritmo da natureza como ritmo fundamental e primário, e isso tem o mérito de, na actualidade, chamar a atenção para aquilo a que tendemos a prestar cada vez menos atenção, nestas sociedades de consumo em que tudo consumimos sem saber tantas vezes o quê ou como se faz: a natureza. Daí que o percurso fílmico de Malick tenda para as origens: as origens do conflito, as origens da civilização, as origens do seu país, depois de ter andado não à toa pelo século XX americano (anos cinquenta, anos da I Grande Guerra, anos quarenta).
Poucos
cineastas como ele procuram actualmente ou procuraram na História do Cinema
esse primitivo do homem na natureza sem o reduzir a fórmulas de momento ou de
moda como Terrence Malick o faz, apenas na tentativa de chegar a desvendar
alguma coisa de fundamental sobre a vida e os humanos confrontando-os e
contrastando-os com a natureza. E isso não é feito apenas através de meios
visuais (e sonoros) por um lado e meios narrativos por outro, mas através de
ritmos criados pela montagem, através de ritmos audiovisuais que se separam do objecto que é representado
para melhor o entender.
E
aqui voltamos ao problema atrás referido como fundamental da representação no
cinema.
Se
há cineasta actual que utiliza a representação dos objectos, animados e
inanimados, para criar alguma coisa de novo e de diferente deles mas que ajude a compreendê-los esse
cineasta é Terrence Malick.
Digo
e sublinho isto porque evidentemente que o cinema é uma arte da representação,
no sentido de reprodução da realidade e no sentido de encenação, o que
naturalmente expele qualquer veleidade de uma sua leitura como simples
duplicação da realidade. Por aí, pela estratégia da simples reprodução como
meio de acesso a uma verdade humana andará o documentário no seu melhor, feito
pelos seus melhores praticantes (Frederick Wiseman, por exemplo). Mas não é
essa a estratégia de um cineasta como Malick, que tão pouco acredita num cinema
da “transparência”, como era o cinema americano clássico. O que ele procura (e
a meu ver consegue) mostrar-nos é precisamente a opacidade do humano, a
não-transparência dele quando situado num meio natural, que mostra como um todo
e de que destaca parcelas como termo de comparação.
E
essa diferença, essa não-coincidência entre humano e natural não resulta de um
simples contraste, o que até não seria muito complicado, mas do ritmo criado pela montagem, que é
musical de maneira a melhor inscrever o humano desacerto, o humano conflito no
seu contexto natural. Ora é isso que é criativo, original, pessoal nos quatro
escassos filmes da produção de Malick, esse ritmo
que ora é dinâmico (os movimentos de
câmara) ora é estático (os inserts de planos vazios) mas é sempre
determinado pela montagem, que por
assim dizer sobredetermina esses
filmes.
O nosso cineasta não é um autor que se possa catalogar por géneros nem por escolas ou tendências cinematográficas. É um homem do cinema do seu e do nosso tempo, que produz contrastes para mostrar desadequações através de um ritmo que não é o do cinema massificado, nem o do audiovisual, nem o do videoclip, mas que os pressupõe e os integra (pelo menos nos seus dois últimos filmes) numa poética musical própria, especificamente fílmica. Para mostrar desadequações por contraste com adequações, sem cair no simplismo de um cinema de mensagem, ecologista ou outra. Ele é, e isso nos interessa, o que os seus filmes dele mostram. Ele é os filmes que cria e que são, inequivocamente, seus, que têm o ritmo que ele lhes quer dar e que se tratou aqui de tentar identificar como definidor de uma poética própria de carácter musical, o que o põe ao nível do melhor cinema, da melhor arte de sempre. E que outros cineastas sejam possuídores de uma poética, inclusivamente musical, própria (penso, por exemplo, em Martin Scorsese, em que é mais operática) não faz mais que confirmar a original poética decorrente do tratamento do tempo de Terrence Malick, na medida em que estão em causa poéticas muito diferentes e bem diferenciadas por razões temáticas, estéticas e estilísticas.
O nosso cineasta não é um autor que se possa catalogar por géneros nem por escolas ou tendências cinematográficas. É um homem do cinema do seu e do nosso tempo, que produz contrastes para mostrar desadequações através de um ritmo que não é o do cinema massificado, nem o do audiovisual, nem o do videoclip, mas que os pressupõe e os integra (pelo menos nos seus dois últimos filmes) numa poética musical própria, especificamente fílmica. Para mostrar desadequações por contraste com adequações, sem cair no simplismo de um cinema de mensagem, ecologista ou outra. Ele é, e isso nos interessa, o que os seus filmes dele mostram. Ele é os filmes que cria e que são, inequivocamente, seus, que têm o ritmo que ele lhes quer dar e que se tratou aqui de tentar identificar como definidor de uma poética própria de carácter musical, o que o põe ao nível do melhor cinema, da melhor arte de sempre. E que outros cineastas sejam possuídores de uma poética, inclusivamente musical, própria (penso, por exemplo, em Martin Scorsese, em que é mais operática) não faz mais que confirmar a original poética decorrente do tratamento do tempo de Terrence Malick, na medida em que estão em causa poéticas muito diferentes e bem diferenciadas por razões temáticas, estéticas e estilísticas.
Há
outros elementos formais, visuais (a composição do plano e o consequente
tratamento do espaço) e sonoros (o uso da voz humana e dos ruídos), relevantes
na criação da poética malickiana, tal como há a narrativa, incluindo as
personagens, o que não pude referir senão em linhas muito gerais mas que é
tanto mais importante quanto os argumentos são sempre da autoria do próprio
cineasta, que permite também falar de uma poética da narrativa nos filmes dele,
mas tudo isso terá que ficar para uma outra oportunidade.
Setembro 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário