De Catarina Mourão, autora de "A Dama de Chandor" (2000), chega-nos o mais recente documentário, "A Toca do Lobo" (2016). Construído a partir da memória de família do seu avô, o escritor Tomaz de Figueiredo (1902-1970), recolhe documentos (fotografias, filmes, escritos) e depoimentos, especialmente o da mãe da realizadora, filha do escritor, mas também objectos pessoais deste.
Aberta às questões mais perturbadoras e às respostas mais enigmáticas, a cineasta constrói como um puzzle um filme belo e sentido, inteligente e muito bom, que acaba por dizer muito sobre Portugal e os portuguesas no século passado ao incluir também a figura do seu tio com o mesmo nome do pai, opositor e preso político do Estado Novo.
Tenho ideia de que todas as famílias guardam áreas e personalidades no fundo de arcas que raramente abrem. É o que Catarina Mourão aqui se atreve a fazer, entrando por ramificações do caminho que o seu interesse principal pelo seu avô abrem. E não consegue ir mais longe por causa da recusa da sua tia em lhe franquear o acesso à familiar Casa de Casares.
Para
quem não souber, esclareço aqui que Tomaz de Figueiredo foi
efectivamente um grande escritor português do Século XX, de cujos livros
me lembro e que cheguei a ver pelo menos na televisão. A sua obra foi reeditada já neste século pela IN-CM.
Com este seu novo e bem construído documentário, que tem o mesmo título do mais conhecido romance do seu avô e em que introduz uma derivação muito curiosa com a dança filmada na Casa dos Arcos de Valdevez, Catarina Mourão prossegue da melhor forma uma das obras mais interessantes no documentarismo português contemporâneo.
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