“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Irrepreensível

   "Sozinhos em Berlim"/"Alone in Berlin", a terceira longa-metragem de Vincent Perez (2016), conta com  argumento de Achim von Borries e do próprio realizador com a colaboração de Bettine von Borries, baseado no romance de Hans Fallada (1893-1947), um grande escritor alemão com uma vida muito difícil que é mal conhecido em Portugal, a partir de factos reais.
                     
   O casal Anna e Otto Quangel, interpretado por Emma Thompson e Brendan Gleeson, durante os anos da II Guerra Mundial reage à morte do filho na frente passando a distribuir pela cidade de Berlim postais com apelos à desobediência civil e à resistência de modo a que possam ser encontrados e lidos por outros alemães e despertá-los. Entretanto, sob pressão das SS, o inspector Escherich/Daniel Brühl dirige as operações policiais para os localizar e capturar, num dispositivo que faz lembrar o de "Matou"/"M", de Fritz Lang (1931).
   Tudo em "Sozinhos em Berlim" está muito bem construído, com sobriedade e inteligência nos sucessivos momentos em que ou Anna ou Otto estão sob ameaça de serem localizados e identificados - excelentes as cenas da suspeita de prisão dele e do elevador -, de modo a que possamos estar sempre do lado do casal e acompanhá-lo, eles que estão no centro do filme. 
                      Dogged ... Daniel Brühl in Alone in Berlin
   Numa vida de proximidade e vizinhança muito bem tratada alguns preferem morrer a sujeitarem-se à perseguição nazi. Quando apanhados e presos devido a um deslize de Otto fica a ironia de que, dos 285 postais que ele e Anna haviam distribuído, apenas 18 não terem sido entregues à polícia, numa demonstração de conformismo e de colaboração da população.
    "Sozinhos em Berlim" é um bom filme de Vincent Perez. Irrepreensível. Com fotografia de Christophe Beaucarne, música de Alexandre Desplat, montagem de François Gédigier e grandes interpretações. Apreciei e aconselho. 

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