“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Saúde e amor

  "O Clã"/"El Clan", do argentino Pablo Trapero (2015), de quem nos chegara "Carancho - Abutres"/"Carancho" (2010), é um daqueles filmes que todos os países que conheceram uma ditadura precisam de fazer, por memória mas também por respeito pelas respectivas vítimas.   
                    El Clan
    Arquímedes Puccio/Guillermo Francella, chefe de uma família que vive segundo o lema de "saúde e amor", é o cabecilha de um gang que comete sequestros e assassinatos com cobertura política oculta. Trata-se, portanto, de um filme criminal ou de gangsters sobre práticas em serviço da ditadura militar argentina.
     Quando a ditadura acaba em 1983, ele continua a mesma via com o seu grupo, desde o início com o apoio do filho Alex/Peter Lanzani, praticante de rugby, que a partir de certa altura o recusa, e depois do seu regresso também com a ajuda do seu outro filho, Mangila/Gastón Cocchiarale. No final, quando a cobertura anterior se torna impossível, todos são presos, como no comum filme criminal ou de gangsters acontece. 
                    Apesar de parecerem normais, a família Puccio, do patriarca Arquímedes, sequestrou e matou empresários nos anos 1980 Foto: Divulgação
     A estranheza é dada pela vida comum da família em contraste com as actividades criminosas do pai e dos filhos juntamente com outros. Neste contexto nada o faria prever ou adivinhar e no entanto a recatada fachada esconde uma actividade violenta e criminosa com ela incompatível. Em proveito próprio mas também da ditadura militar instalada.  
     Com uma boa estrutura formal e narrativa, em que todos os pormenores são esclarecidos e que inclui um epílogo com Arquímedes e Alex presos, largo recurso aos grandes-planos e um lado físico muito presente, "O Clã" de Pablo Trapero, co-autor do argumento baseado em factos reais com Julian Loyola e Esteban Student e responsável pela montagem, cumpre bem o seu programa e a sua função, com música apropriada e bons actores. 
                   Cena do filme argentino El Clan, de Pablo Trapero, que esta na mostra competitiva do festival de Veneza. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
     Tem a participação de El Deseo, a produtora dos irmãos Pedro e Agustín Almovar, que sabem muito bem o que fazem. Para lição e proveito de todos. Assim o queiramos ver e compreender ainda hoje, como denúncia e como prevenção de ditaduras e candidatos a ditador - gangsters há sempre mesmo sem eles.

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