“Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís de Camões

"Na dor lida sentem bem,/Não as duas que êle teve,/Mas só a que êles não têm." Fernando Pessoa

"Lividos astros,/Soidões lacustres.../Lemes e mastros.../E os alabastros/Dos balaustres!" Camilo Pessanha

"E eu estou feliz ainda./Mas faz-se tarde/e sei que é tempo de continuar." Helder Macedo

"Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." Camilo Pessanha

“Vem, vagamente,/Vem, levemente,/Vem sozinha, solene, com as mãos caídas/Ao teu lado, vem” Álvaro de Campos

"Chove nela graça tanta/que dá graça à fermosura;/vai fermosa, e não segura." Luís de Camões

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Perícia

    "Milagre no Rio Hudson"/"Sully", de Clint Eastwood (2016), confirma o cineasta como o grande clássico do cinema americano de hoje. Com argumento de Todd Komarnicki baseado em "Highest Duty", de Chesley 'Sully' Sullenberger e Jeffrey Zaslow (está publicado em português), o filme regressa pormenorizadamente a um episódio célebre da história recente da aviação civil americana, decorrido em 15 de Janeiro de 2009 sobre New York.
                     "Sully" Tom Hanks
    Com a excelente interpretação de Tom Hanks como Sully no seu primeiro trabalho com o cineasta, o filme reconstitui o referido episódio com rigor e brio sobre uma cidade traumatizada por aviões a baixa altitude, com a aterragem do avião no Hudson bem reconstituída em estúdio e o salvamento rodado nos próprios locais.
     Tudo visto e ponderado, o protagonista limitou-se a usar a sua perícia como piloto de aviação experimentado e, devidamente assistido pelo co-piloto Jeff Skyles/Aaron Eckhart, tomou a decisão certa que lhe cabia no momento decisivo. A reconstituição da sua audição perante a comissão de inquérito está muito boa e revela de novo a capacidade de decisão de Sully no tempo certo.
                    
     Numa filmografia extensa e rica, o herói americano deste filme de Clint Eastwood, um americano tranquilo, responde bem ao herói de guerra de "Sniper Americano/"American Sniper" (2014), o seu filme anterior, que se compreende num homem que, como muitos outros, é contra a guerra do Iraque. Sully é em "Milagre no Rio Hudson" o herói americano clássico, à justa medida de um filme classicamente bem feito, com fotografia de Tom Stern, que colabora com o cineasta desde "Blood Work - Dívida de Sangue"/"Blood Work" (2002). E fica bem o verdadeiro Chesley 'Sully' Sullenberger aparecer no genérico de fim.
      Devo dizer que aprecio o espírito crítico de Clint Eastwood e a sua capacidade de pôr em causa as suas convicções e as dos espectadores, o que é sempre justamente utilizado e não rejeita o louvor quando devido, embora no melhor da sua obra prevaleça, de facto, um sopro trágico. Howard Hawks (1896-1977), que era piloto aviador e à aviação dedicou alguns dos seus melhores filmes, teria apreciado especialmente este seu último filme.
                     http://statcdn.fandango.com/MPX/image/NBCU_Fandango/343/159/Sully_clip_208sec.jpg
     Sobre Clint Eastwood ver "Sabedoria", de 11 de Fevereiro de 2012, "Controverso", de 17 de Março de 2013, "Domínio absoluto", de 29 de Setembro de 2014 e "Uma lenda americana, ou duas", de 31 de Janeiro de 2015.

      Nota 
      Para conhecer melhor a complexidade e o interesse do cineasta, do actor e dos seus filmes são muito aconselháveis, de Richard Schinkel, o documentário para televisão "O Factor Eastwood"/"The Eastwood Factor" (2010) e o livro "Clint: A Retrospective" (New York: Sterling, 2011), que mereciam ser agora actualizados.  

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