Para além de nos mostrar uma família em desintegração, "O Exame"/"Bacalaureat", de Cristian Mungiu (2016), figura destacada do cinema novo romeno, coloca-nos perante os dilemas do seu pai de família, Romeo/Adrian Titieni, que tem de lidar com várias coisas ao mesmo tempo.
Antes do mais ele enfrenta a situação da filha, Eliza/Maria-Victoria Dragus, muito difícil para o objectivo de a fazer ir estudar para Inglaterra, para "a civilização", depois do seu "acidente", o que ele coloca à frente das suas preocupações com a amante, Sandra/Malina Manovici, ou com a mulher, Magda/Lia Bugnar - escassas com esta. Além disso tem o seu trabalho como médico.
Precisamente porque os métodos de que Romeo se serve são contra normas éticas e legais claras e universais, Cristian Mungiu, também autor do argumento, permite ao protagonista todas as explicações ou "justificações" do seu comportamento de modo a colocar o espectador perante a questão que ele próprio a certa altura do filme coloca: "o que fariam vocês no meu lugar?"
Sem deixar de, na reacção final de Eliza, emitir um juízo moral, o realizador não vai ele próprio além disso, deixando para quem assiste ao filme a responsabilidade de julgar como entender aquela trama cerrada de cumplicidades sórdidas mas humanas, que envolvem responsáveis da administração e da autoridade.
Claro que por ali passa a metáfora da Roménia actual, desiludida já com o seu pós-comunismo, o que não deve ser ignorado na desintegração familiar e nos diversos compromissos mútuos de "Exame", mas a meu ver em especial a figura de Romeo assume um significado mais largo e confere ao filme um mérito especial.
Aliás, o cineasta insiste aqui no plano-sequência, o que cria um ritmo lento e deixa evoluir o trabalho dos actores e os diálogos no tempo com um bom tratamento do espaço, na senda do que tinha feito anteriormente - sobre Cristian Mungiu ver "Gente comum", de 26 de Janeiro de 2013, e "Sufocante", de 10 de Junho de 2013. Sobre o cinema novo romeno ver também "Percurso exemplar", de 14 de Abril de 2012, "Uma relação condenada", de 14 de Agosto de 2014, e "Love", de 18 de Novembro de 2016.
Claro que por ali passa a metáfora da Roménia actual, desiludida já com o seu pós-comunismo, o que não deve ser ignorado na desintegração familiar e nos diversos compromissos mútuos de "Exame", mas a meu ver em especial a figura de Romeo assume um significado mais largo e confere ao filme um mérito especial.
Aliás, o cineasta insiste aqui no plano-sequência, o que cria um ritmo lento e deixa evoluir o trabalho dos actores e os diálogos no tempo com um bom tratamento do espaço, na senda do que tinha feito anteriormente - sobre Cristian Mungiu ver "Gente comum", de 26 de Janeiro de 2013, e "Sufocante", de 10 de Junho de 2013. Sobre o cinema novo romeno ver também "Percurso exemplar", de 14 de Abril de 2012, "Uma relação condenada", de 14 de Agosto de 2014, e "Love", de 18 de Novembro de 2016.
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